*”NÓIS É NÓS E, ELES É ELES”*
Ricardo Labatt
Tudo que se expurga do “asfalto” se implanta, sem nenhum controle, nas comunidades e periferias que nos envolvem.
Proibiram os bailes nos clubes, alegando incômodos sonoros e a presença de menores. O direito ao sono de alguns era perturbado pela ultrapassagem dos 55 Decibéis, que incomodavam os ouvidos mais sensíveis dos que queriam morar no meio do mato, longe do barulho e, portanto, querem implantar esse conceito silencioso no meio da selva de pedra em que se escondem. Afinal pagam condomínio, impostos e taxas que compõem os salários de promotores, juízes e das forças de segurança. Assim, quando digo se escondem da realidade é por que querem silêncio para justificar suas frustrações sexuais, no abandono, no casamento, ou mesmo nos seus fracassos pessoais, onde sempre tem que haver um culpado. E, nunca são eles próprios.
Curioso é que os jornalistas, os promotores, os que atuam nas lideranças de grupos comunitários, ou mesmo os que os usam, para através de denúncias diretas, conseguirem seus objetivos pessoais, não imaginam que os moradores de comunidade também têm direito ao sono. Porém, na visão egocêntrica de alguns, “nós é nós e, eles é eles”. Se não me incomoda mais... Se afastei de mim... Que se danem os favelados... 
Assim os bailes chegam as favelas... Migram dos clubes, onde havia controle do Estado, para as áreas onde o Estado não é a Lei. Potencializa a venda de drogas e, transformam-se em reuniões de chefes. Levam a diversão e a possibilidade de lucros maiores para quem estava à margem da festa e da sociedade.
Tim Lopes foi a primeira vítima dessa erotização, ao denunciá-la.
Os quatro policiais, dois da Civil e dois do BOPE, além do delegado amputado, são as últimas, até o fim de semana passado.
Mas fica a pergunta: O Estado entrará com Saúde, Limpeza e Educação?
Claro que não. Tanto que, horas depois, outros fuzis desfilavam pela favela. Pelo “Complexo”.
Esta Operação, que deu ao Governador do Rio uma visibilidade que nunca imaginou ter, se diferencia muito pouco da iniciativa de 2010, onde Sérgio Cabral, instaurava a UPP. As Unidades Pacificadoras. As UPPs consistiam em oferecer uma falsa sensação de segurança à sociedade, criavam acordos para que não houvessem enfrentamentos, mas mantinha o tráfico, as mazelas e, até a circulação de fuzis.
Esta Operação, aplaudida pela maioria da sociedade, não vai mudar nada a Situação. Muda apenas e tão somente para as famílias dos policiais perdidos. Essas sim devastadas.
Vira debate politiqueiro entre os de pensamento BINÁRIO. Garante a simpatia de quem antagoniza os de pensamento alheio e, garantem reeleições e dividendos eleitorais para continuarem na política burra de chamar uns de "Fascistas" e outros de "Cumunistas". Todo mundo tira uma casquinha.
Alguns dirão: Mas é lógico que proporcionou um volumoso prejuízo financeiro ao Comando Vermelho. Apreendeu muito armamento e produtos ilícitos...
Porém, numa análise mais fria, entende-se que retirou policiais de suas famílias e provocou o receio de que outras facções, inclusive a Milícia, possam se aproveitar para tomar territórios estranhos, além de aumentar a possibilidade de retaliações.
Não estou, de forma alguma, condenando os resultados nem a forma exitosa pela qual foi concebida esta Operação “enxuga gelo”. Apenas direcionando o foco de interpretação da sociedade sobre as verdadeiras causas e consequências dela.
Imaginem-se na pele de policiais que ficam posicionados em esquinas escuras, dentro de viaturas NÃO BLINDADAS, para passar a sensação de falsa segurança à sociedade. Alvos certos. Imóveis e sujeitos ao elemento surpresa diante de quem pretende praticar o ilícito, está em fuga após a prática destes, ou deseja simplesmente uma vingança...
Imaginem-se parentes, esposa, marido, ou mesmo filhos de Agentes do Estado colocados nessa situação de tensão e risco permanente pra que seus comando sejam bem avaliados...
O Rio vive uma situação de guerra. De falta de soberania sobre áreas dentro do território do Município, do Estado e mesmo do País. Guerrilheiros, com armas de guerra, capazes de atingir alvos há mais de 3 (três) quilômetros dominam territórios e oprimem milhares de pessoas, que também pagam seus impostos, mas não têm acesso à educação, saúde, à limpeza urbana e aos demais benefícios do Estado. E não são estranhos... São os seus porteiros, faxineiras, domésticas... o cara que lava seu carro na garagem, o carteiro, o entregador de pedidos por aplicativos, o gari... gente comum que por ser mais humilde, ou ter tido menos oportunidades, não os tornam diferentes dos que tiveram mais privilégios e, até berço.
Ontem um amigo me mandou um vídeo onde o inspirador dos filmes Tropa de Elite chama a atenção para à proximidade entre a Alphaville carioca - a Barra - com o Recreio. Bairro que já foi atingido pela Milícia. E parece que a população carioca, da Barra e da Zona Sul, ainda não entendeu que não existe guetos de pobreza. Existem ilhas de exclusão. Ilhas estas que a cada dia, se tornam mais evidentes e enormemente vulneráveis. Pois nem todos que aqui habitam, conseguem se manter todo o tempo em segurança. Saem para trabalhar, para reuniões externas, para visitar parentes e amigos... E resumo: circulam pelas zonas amarelas e vermelhas.
As autoridades e mesmo a sociedade, deveriam, na minha opinião, pressionar o Estado a combater as armas guerra. A ocupar com educação, saúde e toda a infraestrutura estatal as comunidades mais carentes. Áreas que, inclusive, mais necessitam por serem habitadas por pessoas menos favorecidas.
Pensar em nossa segurança, talvez passe por libertar e dar direitos aos que nos cercam... além de se entender que são maioria. E, que se reproduzem com maior progressão.
E ficam as perguntas:
- Como estas armas fabricadas em outros países chegam às facções?
- Como se faz a lavagem desses bilhões do tráfico e, do crime, sem instituições financeiras envolvidas?
- Como é feita essa logística de distribuição entre países, inclusive de outros continentes, tanto de armas como de drogas?
- Como o governador explica as fotos, inclusive em Agendas do Governo e, em camarotes do Maracanã, com um deputado que teria perdido seu mandato e, consequentemente preso, por suposta ligação como a mesma facção do tal Complexo?
Cito o Sr. TH Jóias – eleito com 12 mil votos - que inclusive anunciou, ao lado do Governador, entregando apartamentos na área da operação e anunciando uma Base da Segurança Presente no local, justamente a área da base eleitoral dele. Além de estar recentemente no mesmo palanque, ao lado do Governador, na festa de formatura de novos policiais.
Sem responder a isso é “enxugar gelo”. É usar o que aflige a sociedade, colocando policiais pobres contra excluídos, poupando os “cabeças” e, dando notoriedade a quem quer dividendos eleitorais. De um lado e do outro.




