terça-feira, 15 de abril de 2025

POLÍTICA

Oportunidades do Brasil na guerra comercial entre EUA e China

Por Emanuel Pessoa*

A imposição de novas tarifas pelo governo de Donald Trump sobre produtos chineses agrava a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Em resposta, o país asiático já adotou medidas retaliatórias, como a taxação de 15% sobre produtos como carne de frango e milho. Além disso, deve reduzir suas importações de soja norte-americana, substituindo-a pela brasileira. Essa mudança não apenas afeta diretamente a economia dos EUA, mas também estreita os laços comerciais da China com o Brasil.

Sob o ponto de vista econômico, a soja ocupa um papel crucial no comércio bilateral entre China e Estados Unidos. Como maior importador global do produto, a China exerce forte influência sobre os preços internacionais. Ao redirecionar suas compras para o Brasil, o mercado norte-americano sofrerá com o excesso de oferta, resultando em pressão baixista sobre os preços e consequente queda na receita dos agricultores. Essa diminuição de demanda também poderá impactar a indústria de insumos agrícolas e o mercado de transporte, aumentando o efeito cascata na economia local. Ademais, o Brasil tende a se beneficiar com a maior participação no mercado chinês, consolidando sua posição como um dos principais exportadores de commodities.

A substituição da soja norte-americana pela brasileira deve gerar receitas adicionais significativas em dólares para o Brasil, o que pode contribuir para a estabilização do câmbio. Com um governo que enfrenta um forte déficit público, as entradas de divisas oriundas do agronegócio são fundamentais para conter o ímpeto de desvalorizações adicionais do real. Um real mais estável, por sua vez, ajuda a controlar a inflação de custos, beneficiando não apenas o setor agrícola, mas também a economia em geral.

Além disso, o aumento das exportações para a China deve impulsionar o crescimento do PIB agrícola brasileiro. O setor do agronegócio é um dos principais motores da economia do país, e uma maior demanda por soja contribui para a geração de emprego e renda nas regiões produtoras. Este crescimento tem o potencial de se refletir em maior arrecadação de impostos e investimentos em infraestrutura, reforçando ainda mais o papel do agronegócio como pilar da economia brasileira.

No aspecto político, o impacto sobre os agricultores americanos tem implicações diretas na base eleitoral de Donald Trump. O setor agrícola foi fundamental para a eleição do ex-presidente, e o descontentamento decorrente de perdas financeiras pode minar o apoio político em regiões-chave. A narrativa de proteção dos interesses nacionais, amplamente utilizada por Trump, contrasta com as dificuldades enfrentadas por esses agricultores diante da perda de mercado para o Brasil. Esse descompasso tem o potencial de enfraquecer o capital político do ex-presidente e influenciar futuras eleições.

Portanto, a combinação de fatores econômicos e políticos das novas taxações não apenas intensifica a guerra comercial entre China e Estados Unidos, mas também destaca a vulnerabilidade de setores específicos da economia americana. Ao mesmo tempo, o Brasil emerge como beneficiário imediato, reforçando sua presença no mercado chinês e consolidando sua posição estratégica no comércio internacional.

*Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.