AS MULHERES SÃO MAIORIA COM FORMAÇÃO SUPERIOR E MINORIA EM CARGOS DE GESTÃO E LIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES
Ana Shirley França*
É verdade que a presença das mulheres cresce em cargos de liderança, em
algumas áreas do conhecimento, como na saúde, ciências, assistência social,
nos esportes e, também, na educação - como mães, professoras e alunas.
Com uma trajetória histórica de limitações e impedimentos ao acesso,
inclusive, à educação formal, a frequência das mulheres nas salas de aula
começou tardiamente, mas, mesmo assim, hoje, são as que mais possuem
diplomas superiores no país, segundo o último censo do Inep e do IBGE.
Contudo, mesmo com diplomas, não ocupam cargos de gestão superior ou de
liderança como os homens, estão bem aquém dessa representatividade que
alcançaram no ensino superior brasileiro.
Em meio a tantos desafios, as mulheres são maioria no ensino superior no
Brasil. A verdade é que o empenho feminino lhe trouxe tetra jornada, dividindo-
se entre o trabalho fora de casa, as atividades domésticas, a criação dos filhos
e os estudos e, com isso, elas têm persistido para concluir cursos superiores e
têm logrado êxito.
Cursos que naturalmente possuíam o perfil masculino, em passado recente,
atualmente possuem grande ou majoritária representação feminina, como
ocorre em cursos de graduação, como Administração e Engenharia. Alguns
alegam ser em razão de maior número de mulheres no mundo; porém,
certamente, todas sabem o custo e a luta para galgar e alcançar um título
superior.
Em contrapartida, nas organizações, a representação feminina é bem menor.
Por mais diplomas que tenham, por mais formação e preparo, estão ainda bem
longe de alcançar representatividade em cargos de liderança e de gestão
superior. Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), as mulheres
ocupavam 39,1% dos cargos de liderança no país, após pesquisa realizada
com dados de 2023. O estudo apontou que o percentual representava um
aumento de menos de quatro pontos percentuais em relação a 2013, quando já
ocupavam 35,7% em cargos de liderança e de gestão mais importantes nas
organizações.
As pesquisas atuais demonstram que houve um avanço, mas ainda está
aquém da equidade entre homens e mulheres. O estudo “Estatísticas de
Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil”, publicado pelo IBGE em
março de 2024, mostrou que as mulheres buscam conciliar, de modo ainda
desigual, os afazeres domésticos e cuidados de pessoas com o trabalho
remunerado. Em muitos casos, elas só conseguem empregos que ocupem
menos horas durante a semana ou empreendendo em sua residência. Em
2022, 28,0% das mulheres estavam trabalhando em tempo parcial (de até 30
horas semanais), quase o dobro (14,4%) do verificado em relação aos homens.
A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho foi de 53,3%
enquanto a dos homens foi bem maior: 73,2%. Os dados possibilitam perceber
que a diversidade de gênero ainda não é equitativa no ambiente empresarial.
A pesquisa do Instituto Ethos que analisa o perfil social, racial e de gênero em
1100 empresas traz resultados interessantes e contrastantes. As empresas
consultados pela pesquisa afirmam, em maioria, que colocam a mulher como
centro da atenção de seus projetos, inclusive os resultados revelam que 78,2%
das respondentes indicaram adotar políticas ou ações afirmativas voltadas para
a promoção da igualdade de gênero.
Contudo, o levantamento realizado não revela grande avanço na diversidade
de gênero e na inclusão de mulheres nas organizações pesquisadas. Mais
importante ainda é ver que a representação feminina é pouco significativa em
cargos mais altos de gestão e de liderança. Os números revelam que, quanto
mais alto o cargo nas empresas, menor participação feminina ocorre.
*Administradora. Conselheira do CRA-RJ. Coordenadora da Comissão
Especial do Trabalho e Empregabilidade do CRA-RJ. Coordenadora do Curso
de Administração Unyleya. Empreteca SEBRAE. Empreendedora. Avaliadora
MEC/INEP. Autora. Top Voice Linkedin. PUC Angels – Liderança Feminina.
Fonte: Pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero nas Empresas, Instituto Ethos, 2024.
Os cargos com vínculos temporários ou mais operacionais já aparecem com
maior representação feminina, o que não sinaliza melhoria na participação das
mulheres nas empresas.
A luta feminina continua, e os números e conquistas das mulheres devem ser
um incentivo, para que continuem na busca de ocupar ainda mais os bancos
universitários, bem como conquistar, por mérito, um lugar mais expressivo em
trabalhos de liderança, sejam nas organizações, em cargos representativos das
profissões, na política, nas suas comunidades e como grande líder nas suas