domingo, 26 de novembro de 2023

POLITICA

Apesar da tecnologia, governos ainda preferem viver no 'Reino do Não Sabia'

Alexandre Pegoraro

Entra governo, sai governo e a história se repete. Seja de direita, de esquerda, de centro, de cima ou de baixo, pouco importa. Os responsáveis pela gerência institucional do país insistem em negar ou desprezar a tecnologia para ter sempre uma saída rápida dos constrangimentos através da porta aberta para o ‘Reino do Não Sabia’.

O ‘Não Sabia’ da vez parece responder pela alcunha de ‘Dama do Tráfico’ no Amazonas. Pelo fato de que o governo ‘Não Sabia’ deste pequeno detalhe associado ao seu nome, ela teve as passagens pagas pelo dinheiro público para viajar até a capital federal e participar de agendas nos Ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos.

Ah, mas a responsabilidade por indicar essa pessoa era do governo do Estado do Amazonas. Ok, mais um que ‘Não Sabia’.

Só para lembrar outras manifestações do ‘Reino do Não Sabia’, o governo anterior nomeou um ministro da Educação que não tinha os cursos que alegava ter. Mas o governo anterior também ‘Não Sabia’ disso.

Para recorrer ainda a outra ajuda da memória recente, é fato que a CPI da Covid descobriu que o Ministério da Saúde ‘Não Sabia’ que a empresa Precisa Medicamentos e a Global Gestão em Saúde pertenciam ao mesmo grupo econômico.

E daí? Daí que a Global era alvo de uma ação de improbidade administrativa na qual era acusada de desvios da ordem de R$ 19,9 milhões por suposta falta de entrega de medicamentos para doenças raras.

De ‘Não Sabia’ em ‘Não Sabia’ os escândalos vão se sucedendo, trazendo prejuízos e colocando em risco a segurança do país em uma espiral interminável, mas não pela falta solução já que o que parece não haver é vontade política de resolver.

As chamadas LegalTechs apresentam praticamente todos os dias novas ferramentas tecnológicas capazes de entregar em questão de minutos todas as informações necessárias para eliminar a desculpa do ‘Não Sabia’.

Isso tudo sem nem mesmo a necessidade de grandes investimentos financeiros. Na maioria dos casos, elas trabalham no chamado sistema ‘SaaS’, sigla para Software as a Service, que na prática oferece o Software como Serviço, ou seja; o sistema não é vendido como se fosse um produto. Desta forma, não é feita a instalação de nenhum programa nos equipamentos internos e as aplicações são usadas pela internet, geralmente em forma de assinaturas com módulos que o contratante pode escolher de acordo com a profundidade e o tipo de pesquisa que pretende fazer.

Através deste serviço, é possível realizar pesquisas em mais de 3.500 fontes para conferir a idoneidade de pessoas e empresas a partir do CPF ou CNPJ. Por meio de tecnologias de ponta para mineração de dados e crawling, essas empresas informam se determinada pessoa ou empresa, seus sócios ou familiares, estão envolvidos em fraudes, corrupção, lavagem de dinheiro, terrorismo, crimes ambientais, envolvimento com emprego de mão de obra escrava e infantil, apontando ainda, se a pessoa é politicamente exposta ou não, permitindo ainda o monitoramento/pushing contínuo dos pesquisados.

A verificação inclui ainda fontes de pesquisa como Receita Federal, Tribunais de Justiça, Diários Oficiais, Listas Restritivas, Birôs de Crédito, Google, Dados Cadastrais, sites da ONU, OFAC, INTERPOL etc. Essas startups organizam as informações obtidas em forma de dados totalmente estruturados e otimizam ao máximo o tempo de análise das informações coletadas.

A prestação de serviços de forma terceirizada para o ambiente jurídico tem crescido na velocidade em que surgem novas ferramentas tecnológicas para apoiar o trabalho tanto dos órgãos públicos como dos escritórios de advocacia que prestam este serviço de checagem.

Enquanto o ‘Reino do Não Sabia’ infelizmente permanece com as portas abertas em todas as esferas de governo do país, o movimento de terceirização das soluções oferecidas pelas legaltechs cresce a cada dia fazendo com que os preços diminuam rapidamente.

Desta forma, a cada dia ficará mais difícil para a sociedade acreditar que essas falhas de segurança aconteçam porque quem deveria zelar pela proteção ‘Não Sabia’ de alguma informação sobre pessoas ou empresas envolvidas nestes casos.

Com tanta tecnologia disponível, só resta a alternativa de que, se alguém ‘Não Sabia’ deste tipo de informação, era porque realmente ‘Não Queria Saber’.
Por que não queria saber?

Ah! Para essa pergunta cada um tem suas próprias respostas