segunda-feira, 20 de julho de 2020

A QUALIDADE DO AR NAS CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS 

Ana Seroa

Construção sustentável é um conceito muito abrangente e engloba várias linhas de pensamento, conforme já discutimos em artigos anteriores. Uma destas vertentes trata do conforto ambiental no interior das habitações sustentáveis como um pré-requisito indispensável. Nesse sentido, a seleção de materiais e as decisões de projeto devem sempre almejar o máximo de qualidade para o ar interior. É sabido que os materiais de construção produzem e liberam poluentes no ar, tais como: mofo, radônio, formaldeído, benzeno, amônia, gás carbônico entre outros compostos orgânicos voláteis (VOCs). Centenas desses produtos químicos venenosos podem ser lançados, não só pelos materiais de construção, mas também pelos móveis, tapetes e etc



Estudos demonstram que hoje nós passamos 90% (noventa por cento) de nossas vidas em ambientes fechados. Esse fato, por si só, nos leva a concluir que a boa qualidade do ar interno não é somente uma questão de sustentabilidade do planeta, mas é algo vital para ter boa saúde. Cabe lembrar que essas toxinas levam pessoas propensas a apresentarem uma série de reações respiratórias e alérgicas. Estas reações, quando provocadas por elementos químicos, causam uma doença catalogada pela Organização Mundial de Saúde e conhecida como Síndrome do Edifício Doente (SED). Por isso, ao se projetar um edifício, é essencial conhecer os componentes dos materiais de construção e verificar suas emissões toxicas antes de usá-los no interior das edificações.


 Entretanto, nem sempre é possível prescindir de um determinado material de construção, mesmo que ele elimine poluentes que contaminem o ar interior. O concreto, por exemplo, emite amônia e outros VOCs, conforme medições realizadas no interior das edificações que o utilizam. Agora cabe lembrar que o concreto é um dos materiais de construção mais utilizados no Brasil. Nas construções sustentáveis, a busca por um ar de qualidade nos remete ao estudo realizado pela NASA, onde o cientista Dr. Bill Wolverton buscava criar um ambiente respirável nas estações espaciais. Seus resultados sugeriram que, além de absorver dióxido de carbono e liberar oxigênio através da fotossíntese, certas plantas utilizadas no interior de residências também podem ser uma maneira natural de remover VOCs. Ele testou a capacidade de remoção de benzeno, de formaldeído e de tricloroetileno em centenas de espécimes. Em condições análogas a de uma estação espacial, isto é em um espaço completamente selado, ele concluiu que poderia obter uma limpeza eficiente do ar com pelo menos uma planta a cada nove (9) m² de área de piso. Ficou claro que em ambientes abertos os resultados seriam diversos.


Logo, as plantas são os melhores filtros para os poluentes do ar. Os resultados dessas pesquisas encontram-se publicados em livros e artigos científicos. Vamos aqui listar algumas dessas plantas e apontar quais poluentes elas podem remover do ar que respiramos. A Hedera Helix, nome cientifico da nossa popular hera, é capaz de remover benzeno, formaldeído, tricloroetileno, xileno e tolueno. Já a bananeira (Musa Oriana) consegue retirar do ar o formaldeído. Outras plantas como a babosa, a tulipa e a samambaia foram estudadas e comprovadamente limpam o ar das toxinas. Flores como a gérbera (Gerbera Jamesonii), além de decorativas, também retiram VOCs do ar. A lista é muito extensa. Para conhecer melhor as flores e plantas que devem ser empregadas para remover poluentes do ar, nós devemos buscar as diversas publicações científicas que existem sobre qualidade do ar interior. Agora fica cada vez mais claro porque consideramos a parede verde, e/ou o telhado verde como ícones da construção sustentável. Eles, além de decorativos, pela presença de vegetação nos elementos, passam a ajudar a preservar nossa saúde. As plantas são os “pulmões” do nosso planeta. Elas produzem o oxigênio que torna a vida possível, acrescentam umidade e ainda filtram as toxinas. Elas podem desempenhar essas funções essenciais nas construções sustentáveis com a mesma eficiência que uma floresta tropical exerce seu papel em nossa biosfera.