4 segundos para salvar vidas
Mario Eugenio Saturno
No Brasil, vê-se muitas placas e instruções em luminosos
e nas rádios para se manter distância do carro da frente, mas afinal, qual é
essa distância? Em algumas poucas estradas, há marcadores pintados na pista
indicando qual distância se deve manter. Mas essa orientação é pouco efetiva,
ficando para o motorista usar o bom senso. E parece que o bom senso da maioria
não tem senso algum.
Na América do Norte, por entender que a distância depende
da velocidade (se dividir distância por velocidade, obteremos o tempo em
segundo), orientam os motoristas a medir a distância contando os segundos entre
o carro da frente e o próprio usando uma referência fixa. Com isso, criaram a
regra dos 4 segundos, quando a velocidades estiver acima de 30 mph (ou 50
km/h), especialmente em tráfego intenso ou quando houver muitos obstáculos.
Assim, para velocidades acima de 50 km/h, manter-se 3
segundos do carro da frente já é considerada uma situação arriscada e perigosa.
Com 2 segundos, considera-se extremamente arriscada e perigosa. E avaliando a
agressividade na direção: 4s é uma situação de baixa agressividade, 3s é
agressão moderada e 2s alta agressão. Na rodovia Dutra, ninguém mantém
distância maior que 1 segundo, exceto eu que fico entre 2 e 3. Mas estou me
esforçando para ficar nos 4 segundos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dirigir um
carro é o comportamento mais perigoso em que a maioria das pessoas se envolve
todos os dias, cerca de 1,25 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito,
e que são a principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
A principal causa de acidentes de trânsito é a condução
agressiva, responsável por mais da metade de todas as mortes no trânsito.
Define-se a condução agressiva como o funcionamento de um veículo motorizado de
uma maneira que ponha em perigo pessoas ou propriedades, incluindo excesso de
velocidade, bloqueio de outros motoristas, condução fora da estrada, gestos
obscenos e xingamentos ou gritos com raiva de outros motoristas.
Se as mortes preocupam a OMS, deveria preocupar ainda
mais as autoridades do Brasil, pois o trânsito foi responsável pela morte de 38
mil pessoas em 2016, ou 19 mortes por 100 mil habitantes. Muitas mortes que
poderiam ser evitadas. E os políticos tem a oportunidade de fazer algo com
isso.
A Faculdade de Medicina da USP, com apoio da Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) fez um estudo das
vítimas de mortes violenta na cidade de São Paulo e descobriu que a maioria das
vítimas consumiu álcool ou drogas antes de morrer. Os testes foram feitos nos
Institutos Médicos Legais da cidade de São Paulo em 2014 e 2015. As vítimas
eram adultas que foram feridas fatalmente ou tiveram morte súbita, inesperada
ou violenta.
A pesquisa analisou amostras de sangue de 365 vítimas,
que representam estatisticamente a população adulta da capital paulista. A
maior parte delas (26%) é de casos de homicídios, seguidos por acidentes de
trânsito (20%) e suicídio (10%). O laboratório identificou indícios de uso de
drogas ou álcool em 55% dos casos.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é
Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e
congregado mariano.