SOB OS
ÓCULOS DA PERVERSÃO
Percival Puggina
Sessenta
e três mil homicídios – números de guerra civil – são praticados por ano em
nosso país. Em igual período, quase seiscentos mil veículos e 1,5 milhão de
celulares são roubados ou furtados. Mais
de 50 mil estupros notificados. São números impressionantes, assustadores, e
justificam a sensação de insegurança e de desproteção em que vivemos.
Enquanto
isso, muitos afirmam, sem pestanejar, que no Brasil se prende excessivamente.
Gostariam que houvesse mais bandidos nas ruas! O PCC e o CV concordam. O
primeiro, aliás, nesta semana, “desencarcerou” vinte e tantos do presídio de
Piraquara... Obedecendo a essa linha negligente de raciocínio, as franquias do
semiaberto, da prisão domiciliar e da descartável tornozeleira são concedidas
com liberalidade a criminosos que delas se valem como previsível meio de fuga.
Em outras palavras, a justiça, a lei e a sociedade perdem quase todas para
crime.
Espantoso? Pois tão
espantoso quanto isso é ver e ouvir, cotidianamente, formadores de opinião
tratar como “partidários da violência” os que, nesse cenário se opõem ao
desarmamento. Estão preocupadíssimos com assegurar a incolumidade dos bandidos
e com garantir a bovina passividade das vítimas. Não contentes com a deturpação
dos fatos, os protetores de criminosos ainda se dão ao desplante de equivaler o
desejo de autodefesa com um anseio por “resolver disputas à bala” como se
fossem desavenças pessoais e não simples prudência para sobrevivência das
vítimas. Pronto! Na
falta de juízo, de neurônios, ou na perversão ideológica desses palpiteiros, o
direito natural à autodefesa e o dever moral de proteger a própria família são
apontados como deformações de conduta, sujeitas a juízos éticos que jamais
incidem sobre quem comete os crimes e gera a insegurança social. Até os
traficantes contam com a silenciosa tolerância da mídia desajuizada.
Pronto! Na falta de juízo, de neurônios,
ou na ótica perversa desses palpiteiros, o direito natural à autodefesa e o
dever moral de proteger a própria família são apontados como deformações de
conduta, sujeitas a juízos éticos que raramente incidem sobre quem comete os
crimes e gera a insegurança social. Até os traficantes contam com a silenciosa
tolerância da mídia desajuizada.
Por
outro lado, ninguém ignora os efeitos desastrosos da erotização precoce da
infância, de sua exposição à influência nociva de programas impróprios, à
pornografia, à ideologia de gênero e ao assédio de desqualificada educação
sexual proporcionada em alguns educandários. As crianças brasileiras estão
expostas a toda sorte de aberrações, nas ruas, nas escolas e nos meios de
comunicação. No entanto, a mídia militante joga sobre quem clama por reação da
sociedade e interferência dos poderes públicos para coibir abusos, a acusação
de “fanatismo religioso” e “moralismo”!
Fica difícil
a vida neste país quando tantos se empenham em transformar a virtude em vício e
vice-versa.
* Percival Puggina (73), membro
da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org, colunista
de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.