Percival Puggina
Você se
lembra do impeachment de Dilma Rousseff, aprovado pelo Senado Federal em 31 de
agosto de 2016? Desde então, somente os petistas falam sobre o assunto por
todos os seus cotovelos. Evocam-no de modo incessante, repetindo o bordão do
“golpe”. Afirmam-no onde houver um
microfone, uma câmera, um pedaço de papel para cartaz e um toco de lápis.
Afirmam-no no Brasil para influir no exterior e no exterior para repercutir no
Brasil.
Você se
lembra da condenação de Lula no processo do triplex, o primeiro em que foi
julgado dentre a meia dúzia em que é réu? Observe que a minuciosa descrição de
provas e causas da condenação, na prática, só foi ouvida na longa leitura dos
votos dos eminentes desembargadores federais do TRF-4. A sentença, contudo, não
possui o dom de dar voz e propagar suas razões. Já o réu e seus seguidores,
falando sem contraposição, fizeram o que mais sabem para impor sua versão. O PT
domina as técnicas de convencimento por repetição exaustiva.
Recordemos. As estratégias e ações
próprias da campanha eleitoral começaram no palanque da pantomima “religiosa”
que antecedeu à prisão e se prolongaram no acampamento Marisa Letícia. Quando
este esgotou sua capacidade de gerar repercussão, foram desencadeados os
infindáveis e reiterados recursos, aos quais se somou um conjunto de
iniciativas suficientes para transformar a carceragem da Polícia Federal de
Curitiba em impossível, mas notório, comitê político de Lula. A fictícia
pré-candidatura, cuja teimosia, durante meses, venceu a razão e se impôs à condução
regular de uma efetiva execução penal, virou fantasmagórico pedido de registro,
com direito a sessão de julgamento pelo pleno do TSE! Tudo antecedido por e
sucedido pela mais espetacular e concentrada avalanche de baboseiras recursais
já vista no Direito Eleitoral brasileiro. Quando, nos primeiros dias deste mês,
a lâmpada se foi transferindo da carceragem para o poste, a versão petista da
prisão política ainda encontrou bom preço. O PT vendeu como coisa séria a tese
de que as razões de nosso Direito e da nossa Justiça se deveriam submeter a um
papelucho expedido por duas insignificantes criaturas a serviço de um comitê
chinfrim que ostenta tênues ligações com os colegiados multinacionais da ONU.
Durante todo esse tempo, o petismo ficou
falando sozinho, refutado por meros sorrisos de desprezo e comentários
irônicos, tão justificáveis quanto inúteis. A ascensão na cena eleitoral do
“triplex” Lula, Haddad e Manuela era mais do que previsível, portanto. A chave
disso é resiliência e trabalho.
A duas
semanas da eleição, apenas algo totalmente fortuito, out of the script, poderá impedir que esta eleição, em turno
único ou em dois turnos, transcorra afastada da polarização entre Bolsonaro e
Haddad. Um segundo turno será apenas a repetição temática do que já se revelou
essencial no primeiro. Em outras palavras, penso que a escolha se trava entre
mudança e continuidade.
Bolsonaro representa mudança e reformas
sem as quais o Brasil voltará a quebrar e a miséria baterá a um número
crescente de portas. Nesse particular, ele disputa terreno com outros quatro
candidatos também reformistas. É nas pautas do combate à corrupção, da força à
Lava Jato, da segurança pública, da proteção da família e da inocência infantil,
do direito dos nascituros, da despartidarização da Educação etc., que Bolsonaro
sobrepuja Alckmin, Amoedo, Álvaro e Meirelles. Estes, para combatê-lo,
cometeram o erro de se afastar de temas que suscitam elevado interesse social.
Haddad se empenha em não deixar dúvidas
de que representa a defesa de seus corruptos, o desprezo à Lava Jato e a Sérgio
Moro, o desarmamento e o abrandamento da legislação penal, a ideologia de
gênero nas escolas, a politização da Educação etc.. E, também, o retrocesso nas
tênues reformas empreendidas durante o governo Temer. Contra estas, aliás,
sempre se postou o PT, que anuncia, agora, a intenção de as revogar,
empurrando-nos de volta à situação recessiva dos anos Dilma.
Ninguém
pode alegar que não gosta daquilo que louva, que jamais mereceu sua mínima
reprovação e que financiou a fundo perdido. Essa não! Todos os integrantes do
“triplex” petista têm longa história de apreço por governos socialistas e
comunistas nascidos no Foro de São Paulo. Em momento algum, nas últimas quatro
décadas, manifestaram estima por qualquer democracia de respeito. É estranho,
mas real: o Brasil precisa decidir se quer a situação venezuelana como
referência do passado ou do futuro.
* Percival Puggina (73), membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.