terça-feira, 25 de setembro de 2018

BOLSONARO OU HADDAD?


Percival Puggina
         Você se lembra do impeachment de Dilma Rousseff, aprovado pelo Senado Federal em 31 de agosto de 2016? Desde então, somente os petistas falam sobre o assunto por todos os seus cotovelos. Evocam-no de modo incessante, repetindo o bordão do “golpe”.  Afirmam-no onde houver um microfone, uma câmera, um pedaço de papel para cartaz e um toco de lápis. Afirmam-no no Brasil para influir no exterior e no exterior para repercutir no Brasil.
         Você se lembra da condenação de Lula no processo do triplex, o primeiro em que foi julgado dentre a meia dúzia em que é réu? Observe que a minuciosa descrição de provas e causas da condenação, na prática, só foi ouvida na longa leitura dos votos dos eminentes desembargadores federais do TRF-4. A sentença, contudo, não possui o dom de dar voz e propagar suas razões. Já o réu e seus seguidores, falando sem contraposição, fizeram o que mais sabem para impor sua versão. O PT domina as técnicas de convencimento por repetição exaustiva.
Recordemos. As estratégias e ações próprias da campanha eleitoral começaram no palanque da pantomima “religiosa” que antecedeu à prisão e se prolongaram no acampamento Marisa Letícia. Quando este esgotou sua capacidade de gerar repercussão, foram desencadeados os infindáveis e reiterados recursos, aos quais se somou um conjunto de iniciativas suficientes para transformar a carceragem da Polícia Federal de Curitiba em impossível, mas notório, comitê político de Lula. A fictícia pré-candidatura, cuja teimosia, durante meses, venceu a razão e se impôs à condução regular de uma efetiva execução penal, virou fantasmagórico pedido de registro, com direito a sessão de julgamento pelo pleno do TSE! Tudo antecedido por e sucedido pela mais espetacular e concentrada avalanche de baboseiras recursais já vista no Direito Eleitoral brasileiro. Quando, nos primeiros dias deste mês, a lâmpada se foi transferindo da carceragem para o poste, a versão petista da prisão política ainda encontrou bom preço. O PT vendeu como coisa séria a tese de que as razões de nosso Direito e da nossa Justiça se deveriam submeter a um papelucho expedido por duas insignificantes criaturas a serviço de um comitê chinfrim que ostenta tênues ligações com os colegiados multinacionais da ONU.
Durante todo esse tempo, o petismo ficou falando sozinho, refutado por meros sorrisos de desprezo e comentários irônicos, tão justificáveis quanto inúteis. A ascensão na cena eleitoral do “triplex” Lula, Haddad e Manuela era mais do que previsível, portanto. A chave disso é resiliência e trabalho.
         A duas semanas da eleição, apenas algo totalmente fortuito, out of the script, poderá impedir que esta eleição, em turno único ou em dois turnos, transcorra afastada da polarização entre Bolsonaro e Haddad. Um segundo turno será apenas a repetição temática do que já se revelou essencial no primeiro. Em outras palavras, penso que a escolha se trava entre mudança e continuidade.
Bolsonaro representa mudança e reformas sem as quais o Brasil voltará a quebrar e a miséria baterá a um número crescente de portas. Nesse particular, ele disputa terreno com outros quatro candidatos também reformistas. É nas pautas do combate à corrupção, da força à Lava Jato, da segurança pública, da proteção da família e da inocência infantil, do direito dos nascituros, da despartidarização da Educação etc., que Bolsonaro sobrepuja Alckmin, Amoedo, Álvaro e Meirelles. Estes, para combatê-lo, cometeram o erro de se afastar de temas que suscitam elevado interesse social.
Haddad se empenha em não deixar dúvidas de que representa a defesa de seus corruptos, o desprezo à Lava Jato e a Sérgio Moro, o desarmamento e o abrandamento da legislação penal, a ideologia de gênero nas escolas, a politização da Educação etc.. E, também, o retrocesso nas tênues reformas empreendidas durante o governo Temer. Contra estas, aliás, sempre se postou o PT, que anuncia, agora, a intenção de as revogar, empurrando-nos de volta à situação recessiva dos anos Dilma.
         Ninguém pode alegar que não gosta daquilo que louva, que jamais mereceu sua mínima reprovação e que financiou a fundo perdido. Essa não! Todos os integrantes do “triplex” petista têm longa história de apreço por governos socialistas e comunistas nascidos no Foro de São Paulo. Em momento algum, nas últimas quatro décadas, manifestaram estima por qualquer democracia de respeito. É estranho, mas real: o Brasil precisa decidir se quer a situação venezuelana como referência do passado ou do futuro.

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.