Existem
correntes políticas e jurídicas sem qualquer entusiasmo para combater a
criminalidade. Precisam dela para “justificação” de malsucedidas teses
sócio-políticas e econômicas. Parte importante de sua tarefa, aliás, consiste
em convencer as pessoas de que a criminalidade é subproduto da desigualdade
social. E sabem que quem acreditar nisso estará assumindo, também, que basta
implantar o socialismo para a harmonia e a paz reinarem entre os homens. Sim,
sim, claro...
Num dos
primeiros atos da intervenção das Forças Armadas no Rio de Janeiro, moradores
da vila Kennedy, Vila Aliança e Coreia foram objeto de abordagem de rua com
identificação para verificação de antecedentes criminais. A operação começou
bem cedo, na manhã do dia 23 de fevereiro. Mais de três mil soldados retiraram
barricadas instaladas pelos criminosos e passaram a fazer a identificação dos
transeuntes. Enquanto isso, solicitavam
aos moradores, por alto-falantes, que colaborassem com a operação denunciando
traficantes.
Os
defensores de direitos humanos, membros da defensoria pública e representantes
da OAB-RJ logo se apresentaram para reprovar o que designavam como
criminalização da pobreza e grave violação de garantias constitucionais. O
Comando Militar do Leste discordou: “Trata-se de um procedimento feito regularmente,
legal, cuja finalidade é acelerar a checagem nos bancos de dados da Segurança
Pública”. Ademais, o tipo de operação está previsto no Decreto de Garantia da
Lei e da Ordem (GLO) assinado por Temer em 28 de julho de 2017.
Comprova-se
o que afirmei no primeiro parágrafo acima. De um lado, os traficantes, os
barões do crime, os comandantes das facções se escondem nas favelas valendo-se
da proteção que tais conglomerados proporcionam. De outro, entidades e
instituições com orientação esquerdista, ou autorrotuladas como defensoras de
direitos humanos, buscam inviabilizar a ação policial onde necessária e
urgente. Mesmo uma simples identificação é apontada como perturbadora e
ofensiva à dignidade daquelas populações. Na próxima vez que me pararem no trânsito
devo convocar a OAB e a Defensoria Pública?
Pergunto:
onde se escondem essas instituições e as tais comissões de “direitos humanos e
cidadania” quando armas de guerra ceifam vidas inocentes nessas mesmas
comunidades? Entre tiroteios, balas perdidas e rajadas de metralhadora, e uma
simples identificação de rua, qual deve ser a escolha de uma mente sadia? Ora,
senhores! Trégua ao cinismo e à hipocrisia, por favor! Querem prender
criminosos mediante intimação por edital, carta registrada, telefone?
Só uma
profunda desonestidade intelectual pode justificar o argumento de que operação
desse tipo não aconteceria no Leblon. Bandidos devem ser buscados onde
habitualmente se escondem. A decisão de realizar operações cá ou lá não é
tomada por preconceito, mas por estatística.
Nota do autor: Aos 60 anos da revolução cubana, estou ultimando
uma nova edição ampliada e atualizada de “Cuba, a tragédia da utopia”. Ela
estará disponível nos próximos meses.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.