Percival Puggina
Se você
ainda não está naquela fase da vida em que a gente começa a ser chamado de tio
ou de tia, talvez não saiba o que vou lhe contar: o Brasil não era assim. É
muito possível que professores lhe tenham dito que o Brasil é uma zona desde
que os portugueses fizeram um loteamento no litoral brasileiro. Mas isso é
falso. Nossa tragédia federal, estadual, municipal, fiscal, educacional,
judicial, eleitoral, familial e moral não a herdamos de Portugal.
O que
você vê e denuncia é deliberada construção da corrente política que se
assenhoreou da consciência do povo brasileiro. Para alcançar esse objetivo,
incutiu-lhe o que de pior se pode coletar na filosofia e no pensamento político
contemporâneo. Não, não se chega ao ponto em que estamos sem que isso seja
produto de deliberadas ações políticas e culturais.
Senão,
vejamos. Estímulo a toda possibilidade de conflito entre classes sociais, entre
masculino e feminino, entre brancos e negros, entre homossexuais e
heterossexuais, entre filhos e pais. Deliberada confusão entre autoritarismo e
exercício da autoridade. Contenção da polícia e proteção ao bandido;
vitimização deste e culpabilização de sua vítima. Redução da autoridade
paterna, demasias do ECA, diluição do sentido de família num caleidoscópio de
variantes afetivas. Laicismo e interdição à religiosidade e à moral cristã.
Incentivo político e tolerância judicial a ações violentas contra a propriedade
privada. Desumanização do humano e "humanização" dos animais. Justa
proteção à flora e à fauna, às reservas naturais, aos santuários de procriação
e desova, em berrante paradoxo com o estímulo ao aborto. Recursos públicos para
a marcha das vadias, parada gay e marcha pela maconha. Hipertrofia do Estado,
corporativismo e aparelhamento da máquina pública. Escola com partido, kit gay,
ideologia de gênero. Desvio de recursos das atividades essenciais do Estado
para abastecer os fazedores de cabeças no ambiente cultural, tendo como
resultado a degradação da arte e do senso estético. Combate sistemático ao bem
e ao belo.
O
consequente crescimento da criminalidade, da insegurança e das muitas formas de
lesão à vida e ao patrimônio das pessoas é respondido com desencarceramento,
abrandamento das penas, abandono do sistema carcerário e desarmamento da
população ordeira.
Ter
posição adversa aos itens listados acima é obrigação cívica, dever moral. É uma
justificada repulsa que não atinge diretamente quem quer que seja, mas atitudes
e condutas que, estas sim, afetam a vida das pessoas, suas famílias e a
sociedade. Portanto, são males políticos e morais e, por motivos que saltam aos
olhos de todo observador, provêm da mesma banda do leque ideológico. Qualquer
exceção é ponto fora da curva e como tal deve ser vista. As naturezas são
diversas, mas bebem água na mesma fonte.
No
entanto, se você os denunciar, se mostrar a malícia de sua natureza e a
necessidade de mudar diretrizes na vida social e política, surgem os
xingamentos: Discurso de ódio! Preconceito! Censura! Fascismo! Direita raivosa!
Quem perambula, ainda que eventualmente, nas redes sociais, por certo se depara
com esses adjetivos sendo despejados sobre aqueles que cumprem o dever cívico
de rejeitar o intolerável.
A
situação e os problemas descritos decorrem da sistemática destruição dos
valores que a eles se opunham quando o Brasil não era assim. Para os destruir,
investiu-se contra a família como instituição fundamental da sociedade e se combateu
a Igreja até a anulação de sua
influência.
*
Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais
e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.