Percival Puggina
Se dependesse da arte de representar eu estaria sujeito à morte
por inanição. Não consigo imitar sequer a mim mesmo. Por isso, aprecio o dom e
o talento dos bons imitadores, especialmente se associam essa capacidade com a
produção de textos de humor para, com sua dicção, desempenharem tais
habilidades.
O ex-presidente Lula tem sido um prato cheio para
imitadores. Recentemente, circulou nas redes sociais um áudio em que ele
estaria falando com Rui Falcão sobre o desastre que representava o depoimento
de Palocci. Numa torrente de palavrões, tendo ao fundo sons do Jornal Nacional
para dar foros de veracidade à gravação, o ex-presidente esbravejava contra o
delator por estar "entregando tudo".
Semana passada, a coluna Painel, da Folha, contou que o
deputado Fábio Faria (PSD-RN) ligou para seu colega Dudu da Fonte (PP-PE)
fingindo ser Lula e gravou a conversa. O pernambucano, ao ouvir a voz do outro
lado da linha perguntando-lhe se estava em Brasília e se poderia conversar,
exclamou exultante: "Presidente, que saudade!".
Ainda que Lula suscite afetos políticos, parece mais
provável que tais efusões estejam referenciadas aos tempos de bonança que a
conjuntura internacional proporcionou para os países em desenvolvimento nos
primeiros anos deste século. Foi o período em que se consolidou na América
Ibérica o prestígio de alguns governantes com estratégias populistas
semelhantes às de Lula: os Kirchner, Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa,
Daniel Ortega. De todos, tirante o destino incerto do "bolivariano"
refundador da Venezuela, o brasileiro é o mais encrencado, tal a teia de
corrupção em que se envolveu.
O desditoso petista, de uns anos para cá, se tornou o pior
imitador de si mesmo. Os demais que o arremedam têm o humor a seu favor. A
gente os ouve e ri. Lula nem isso. O que dele se escuta é pura falsificação,
hipocrisia, bazófia, num script composto para colher aplausos de um público
descrente mas aprisionado na rede dos favores. Os pequenos favores ao rés do
chão; os grandes favores no alto do palanque.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.