Todos devem se lembrar de muitos escândalos de corrupção nas
várias esferas de governo. Quem lê jornais e revistas semanais sabe como essa
notícia é corriqueira. Existem os casos mais volumosos nos milhões de reais,
mas todos trazem imenso prejuízo à nação. Cada governo que entra repete as
promessas e mencionam as ações de combate. Não demora para o noticiário trazer
de volta o sumiço de grandes fortunas.
Com a chegada das chuvas de verão as cenas parecem ser as mesmas
de quarenta anos atrás - a diferença fica por conta da tecnologia, e todos
ficam indignados; todos não fazem nada de efetivo em ações preventivas e
construções seguras. A função das autoridades restringe-se à contagem dos
mortos, com números incorretos.
Ocorre o mesmo com as vidas ceifadas pelas chamadas balas
perdidas, que só ampliam de locais onde elas alcançam pessoas inocentes e
indefesas, antes restritas às ruas, agora, é em casa, na escola, na escola de
samba, acordados ou dormindo, e todos ficam indignados; e todos não fazem nada de
efetivo contra mais essa matança típica brasileira.
O mesmo acontece com crianças sendo violentadas, mulheres
apanhando diariamente, ensino com professores tirando nota zero, escolas caindo
aos pedaços, lixo nas ruas de todas as cidades brasileiras, terrenos baldios só
criando ratos, favelas surgindo aos montes. São problemas que há décadas deixam
todos indignados; todos não fazem nada de efetivo para solucionar.
E segue o mesmo comodismo e só reclamações virtuais com o dinheiro
jogado pelo ralo em despesas com um Parlamento pouco produtivo e o mais caro do
mundo. Assim tem sido a retórica de despesas com a Câmara dos Deputados, com as
assembleias legislativas e com as câmaras de vereadores, todos ficam
indignados; todos não fazem nada de concreto contra esse desperdício de
dinheiro público.
Só que a grande maioria da população não tem poder nem cultura
para organizar protesto. Quando isso ocorre, vândalos e até pessoas apenas
despreparadas, ou infiltradas, exageram e aí o pau come. E os que têm
capacidade e espaço na mídia escrevem pouco, pois, apesar de agora serem
atingidos pela violência desenfreada, ainda não sofrem na mesma proporção dos
pobres das periferias.
Poderíamos enumerar mais cinco mil problemas repetidos há décadas,
com as mesmas explicações pela falta de solução. As entrevistas de autoridades
na televisão parecem replay, apenas mudam os atores. Do outro lado, os
argumentos indignados são os mesmos.
“Admirável Gado Novo”, música de Zé Ramalho, retrata claramente o
comportamento acomodado do cidadão brasileiro.
Caso continue a esperar sentado pelo cumprimento natural do dever
pelas autoridades brasileiras, daqui a cem anos as águas continuarão carregando
casas e vidas, como carregaram desde sempre. Essa massa de 200 milhões precisa
sair da condição de gado manso e passar à ação efetiva. Mas, antes, os
formadores de opinião precisam escrever que essa mudança se faz necessária.
– Interlagos/SP