Sempre que você escutar um economista dito
"desenvolvimentista" saia correndo, chame a mulher e as crianças e
grite por socorro, SOS, mayday, salve-se quem puder!
Naqueles tempos
em que Lula ainda tentava mostrar o petismo à nação como experiência bem
sucedida, malgrado o crescimento fosse tipo merengue e a prosperidade não
passasse de contas penduradas num prego, ele surtava dizendo que, graças aos
governos do partido, pobre já andava de avião. Doze milhões de desempregados
depois, contas ainda no prego da inadimplência, as companhias aéreas devolvem
aviões e reduzem o número de voos, mas... há uma parcela da elite política
brasileira que só viaja de jatinho.
Ah, as nossas
instituições! Desgraçadamente, nos últimos anos, elas se corromperam em
proporções ainda não plenamente descritíveis. A sociedade, que não lhes
devotava confiança, perdeu-lhes o respeito. Se o leitor destas linhas for
parlamentar, ministro de Estado, membro das cortes superiores do Judiciário,
agente público de alto escalão e considerar excessivamente duras estas palavras,
fale com as pessoas. Ouça o povo nas ruas. Será ainda mais contundente o que
vai ouvir. O descaramento e a inépcia de muitos que se instalam nessas posições
para os piores fins, totalmente desprovidos de espírito público, atinge a todos
e abala os pilares da Ordem, da Política e do Direito. Produz o que hoje se
observa no país.
E não é só por
causa da corrupção! A sociedade também não tolera mais os contracheques de
centenas de milhares de reais, recheados com "indenizações", parcelas
adicionais, gratificações especiais e jeitosas manobras. Divulgada esta semana,
não mostrava a folha de pagamento do TJ sergipano um pouco mais disso, com remunerações
de centenas de milhares de reais aos desembargadores? Pergunto: prodigalidades assim
não se repetem em toda parte, gerando ganhos
impensáveis fora do serviço público, cujo patrão, o povo, desconhece os
absurdos que paga? A nação enoja-se desses esbanjamentos, dos cartões corporativos, dos voos em primeira classe, das
aposentadorias privilegiadas, e da conduta dessa elite cuja boa vida, ela, a
nação, custeia com o gotejado suor de seu rosto e com a sola do sapato gasta
nas calçadas do desemprego.
Notórias
personalidades, além do privilégio de foro que as oculta da efetiva justiça,
desfrutam do raro privilégio de se eximirem do convívio social nos saguões dos
aeroportos e nas filas de embarque onde não seriam bem acolhidas pelo Brasil
que se leva a sério e exige respeito. Então, os senhores da casa grande
republicana, andejam pelo país para reuniões de proselitismo e mentira, festejados
por cupinchas à espera da própria vez. E como viajam? Em jatinhos, helicópteros
e voos fretados, às custas de terceiros, quartos e quintos, entre os quais,
quase certamente, nós mesmos, a turma da senzala.
_______________________________* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.