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Maria Helena Cantamissa
Afonso Campuzano Martinez
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Ciclovia da morte ou .....
Onda da burrice
Em 2011, antevendo o colapso viário entre
Barra da Tijuca e a Zona Sul, o arquiteto urbanista, José Octacilio de Saboya
Ribeiro, elaborou o Projeto Porto Costa Brava, que previa
O arquiteto Saboya |
“Nova ligação
rodoviária e cicloviária entre a Barra e a Zona Sul ao longo da orla”,
com a colaboração de outros profissionais da área, incluindo-se a construção de
um novo túnel e um viaduto paralelo, duplicando a Avenida Niemeyer em uma
plataforma mais baixa.
O projeto foi levado a Delair Dumbrosk,
presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, para apreciação e possível
implantação, ao empresário Carlos Carvalho, que, no entanto, não demonstrou
interesse na consecução do mesmo.
Posteriormente, apresentou-o ao prefeito
Eduardo Paes, com os direitos autorais devidamente registrados, que acredita o
arquiteto, serviu de inspiração para esse “arremedo” de ciclovia, entregue às
pressas, à população.
Impulsionado pelo ocorrido na manhã de 21
de abril,
quando uma onda explodiu no Costão da Avenida Niemeyer, na altura do Castelinho, deslocando uma placa de 50 metros da ciclovia, vitimando duas pessoas, José Octacílio desabafou:
“O problema de hoje é gravíssimo, não foi a onda, nem o mar ou um fenômeno da natureza. Todos os movimentos da natureza são monitorados.
Houve uma onda de burrice, de pouca
capacidade, de incompetência, imperícia, descaso, empresas desqualificadas
tecnicamente, sem ter o mínimo de conhecimento do que estavam fazendo. A
responsabilidade da empresa construtora deve ser apurada e muito embora, a
perda de uma vida não tenha preço, as famílias devem ser indenizadas.
A Diretoria de Hidrologia e Navegação tem a
relação de todas as ondas que aportam à costa de agosto a dezembro. Quem
conhece as ocorrências das frentes frias vindas de SO (sudoeste) ou ainda, da
chegada de swells de SE (sudeste), saberia dessa ocorrência,
que nesse ano, chegou mais cedo. Esses dados são acessíveis a todos pela DHN da
Marinha do Brasil.
Octacílio se interroga se antes do início da
construção foram solicitadas as análises de onda aos órgãos competentes; se foi
consultado um oceanógrafo; quais profissionais analisaram esses fenômenos?
Para ele, o local do acidente apresenta
claros sinais da natureza, onde a vegetação foi arrancada pelas ondas que ali
aportam com violência, mas tudo contornado até então, pela existência dos arcos
construídos no início do século passado.
A ciclovia é estreita; o predimensionamento
está errado, pois deveria ter 30 cm a mais em cada pista;
a cada 300 ou 400
metros ela deveria ter uma pista mais larga, além de obstruir a visualização do
mar.
Era um trabalho onde dever-se-ia ser
estudado primeiro os dados fundamentais do projeto; tais como, sondagens
oceanográficas, sondagens de fundo, de altíssima qualidade e aferição,
definidas e analisadas de modo científico, para poder dar exatamente
conhecimento de como e onde essa estrutura seria feita, e se necessário, como
seria diluída.
O primeiro passo seria analisar os estudos
de ondas existentes, fazer as sondagens de acurada perfeição, por pessoas
altamente capacitadas para saber qual a movimentação das ondas, quando
elas ocorrem e estatisticamente o que acontece com elas.
Perguntado sobre o que acha
da construção do viaduto, Octacilio respondeu:
"Observo
que o novo viaduto está subdimensionado. É
necessário, para uma pista com velocidade de 70 km por hora, 3,5m
por pista, além de mais um metro lateral, no caso específico, da área de
segurança;
era o que tinha esse viaduto anteriormente e que foi
estreitado para colocar essa ciclovia improvisada. Isso é um improviso e a
impressão muito firme que eu tenho, é que MUITO FOI TIRADO DO MEU PROJETO.”
O urbanista, ao longo de sua vida, além do
aperfeiçoamento pessoal, investiu no aprimoramento cultural, adquirindo obras
dos principais escritores internacionais, viajou o mundo todo em busca de
inspiração para elaboração de projetos que visem a criação de espaços
acolhedores e contemplativos de nossa orla, aproveitando ao máximo toda a
vocação turística da cidade maravilhosa, integrando o homem à exuberante
natureza brasileira, nesse momento consternado pela perda das famílias
enlutadas pelo descaso na construção da Ciclovia Tim Maia.