sábado, 23 de abril de 2016

UMA CICLOVIA CAI E OS ERROS GRAVÍSSIMOS DE UM PROJETO




Maria Helena Cantamissa
  Afonso Campuzano Martinez



         Ciclovia da morte  ou .....

         Onda da burrice
  



Em 2011, antevendo o colapso viário entre Barra da Tijuca e a Zona Sul, o arquiteto urbanista, José Octacilio de Saboya Ribeiro, elaborou o Projeto Porto Costa Brava,  que previa

O arquiteto Saboya
“Nova ligação rodoviária e cicloviária  entre a Barra e a Zona Sul ao longo da orla”, com a colaboração de outros profissionais da área, incluindo-se a construção de um novo túnel  e um viaduto paralelo, duplicando a Avenida Niemeyer em uma plataforma mais baixa.

O sonho do urbanista era unir toda a orla oceânica do Leme ao Pontal, inúmeras vezes cantada no vozeirão do saudoso Tim Maia, que afirmava: - “Não há nada igual”. O cantor hoje lamentaria o batismo da ciclovia, com seu nome.

O projeto foi levado a Delair Dumbrosk, presidente da Câmara Comunitária da Barra da Tijuca, para apreciação e possível implantação, ao empresário Carlos Carvalho, que, no entanto, não demonstrou interesse na consecução do mesmo.

Posteriormente, apresentou-o ao prefeito Eduardo Paes, com os direitos autorais devidamente registrados, que acredita o arquiteto, serviu de inspiração para esse “arremedo” de ciclovia, entregue às pressas, à população.

Impulsionado pelo ocorrido na manhã de 21 de abril,  




quando uma onda explodiu no Costão da Avenida Niemeyer, na altura do Castelinho, deslocando uma placa de 50 metros da ciclovia,  vitimando duas pessoas, José Octacílio desabafou:



“O problema de hoje é gravíssimo, não foi a onda, nem o mar ou um fenômeno da natureza. Todos os movimentos da natureza são monitorados.
  
Houve uma onda de burrice, de pouca capacidade, de incompetência, imperícia, descaso, empresas desqualificadas tecnicamente, sem ter o mínimo de conhecimento do que estavam fazendo. A responsabilidade da empresa construtora deve ser apurada e muito embora, a perda de uma vida não tenha preço, as famílias devem ser indenizadas.

A Diretoria de Hidrologia e Navegação tem a relação de todas as ondas que aportam à costa de agosto a dezembro. Quem conhece as ocorrências das frentes frias vindas de SO (sudoeste) ou ainda, da chegada de swells de SE (sudeste), saberia dessa ocorrência, que nesse ano, chegou mais cedo. Esses dados são acessíveis a todos pela DHN da Marinha do Brasil.
             
Octacílio se interroga se antes do início da construção foram solicitadas as análises de onda aos órgãos competentes; se foi consultado um oceanógrafo; quais profissionais analisaram esses fenômenos?

Para ele, o local do acidente apresenta claros sinais da natureza, onde a vegetação foi arrancada pelas ondas que ali aportam com violência, mas tudo contornado até então, pela existência dos arcos construídos no início do século passado.

A ciclovia é estreita; o predimensionamento está errado, pois deveria ter 30 cm a mais em cada pista;


a cada 300 ou 400 metros ela deveria ter uma pista mais larga, além de obstruir a visualização do mar.
  
Era um trabalho onde dever-se-ia ser estudado primeiro os dados fundamentais do projeto;  tais como, sondagens oceanográficas, sondagens de fundo, de altíssima qualidade e aferição, definidas e analisadas de modo científico, para poder dar exatamente conhecimento de como e onde essa estrutura seria feita, e se necessário, como seria diluída.

O primeiro passo seria analisar os estudos de ondas existentes, fazer as sondagens de acurada perfeição, por pessoas altamente  capacitadas para saber qual a movimentação das ondas, quando elas ocorrem e estatisticamente o que acontece com elas.

Perguntado sobre o que  acha da construção do viaduto, Octacilio respondeu:

"Observo que o novo viaduto  está  subdimensionado.  É necessário,  para uma pista com velocidade de 70 km por hora, 3,5m por pista, além de mais um metro lateral, no caso específico, da área de segurança;


era o que tinha esse viaduto anteriormente e  que foi estreitado para colocar essa ciclovia improvisada. Isso é um improviso e a impressão muito firme que eu tenho, é que MUITO FOI TIRADO DO MEU PROJETO.”

O urbanista, ao longo de sua vida, além do aperfeiçoamento pessoal, investiu no aprimoramento cultural, adquirindo obras dos principais escritores internacionais, viajou o mundo todo em busca de inspiração para elaboração de projetos que visem a criação de espaços acolhedores e contemplativos de nossa orla, aproveitando ao máximo toda a vocação turística da cidade maravilhosa, integrando o homem à exuberante natureza brasileira, nesse momento consternado pela perda das famílias enlutadas pelo descaso na construção da Ciclovia Tim Maia.