quarta-feira, 16 de abril de 2014

Pesquisa relata drama vivido pelos familiares de vítimas da violência no Rio de Janeiro

Através de fotos, notícias e memórias, é relatado o drama dos familiares

Dianne Leite

A cidade do Rio de Janeiro, apesar de ter sua beleza reconhecida por muitos, também tem a violência como grande marca. Aline Gama de Almeida, doutora em Ciências Sociais pela UERJ, elaborou a tese “In memoriam: imagens do sofrimento dos familiares de vítimas da violência no Rio de Janeiro” exatamente sobre essa temática, a violência, mas com um ponto de vista diferente: o dos familiares de vítimas de atos violentos na cidade e a visão dos fotojornalistas que presenciaram as cenas de crueldade.


A autora aborda o tempo como um “agente” que vai, além de trabalhar com o emocional dos familiares, transformar essa experiência, construindo a identidade de “familiar de vítima” e a formação da “comunidade emocional”, onde as pessoas vão apoiá-los na busca pelo direito de justiça. A partir do momento em que é noticiado um ato de violência, a população acolhe a causa e passa a dar apoio aos familiares na busca da justiça. Assim, esses registros de violência transformam a cidade em um “lugar de memórias”.

Durante a tese são observadas fotos de cada caso e feitos questionamentos aos fotojornalistas e familiares das vítimas sobre a escolha das fotos e a invasão na vida das famílias. Um dos casos retratados na tese é o da chacina de Realengo, onde se afirma que a escolha das fotos com lágrimas é para denunciar e causar comoção nos leitores.

Há também depoimentos de pessoas que perderam seus familiares, mostrando a dor da perda e da impunidade, como o da Flávia, que afirma: “É uma dor absurda. É uma coisa, uma foice que te corta ao meio e fica remexendo em todo o seu corpo. E dói, dói muito, muito mesmo... Com o tempo, você aprende a lidar, mas continua doendo.” Ela também fala que o tempo cura tudo.

Aline conclui que analisar as imagens dos familiares de vítimas de violência produzidas por eles ou por outras pessoas sobre eles, em que a memória do ente é continuamente alimentada, foi e é importante para compreendermos tanto as consequências quanto a manutenção da violência na vida dessas pessoas. Esse sentimento de revolta gera outros como o coletivismo, o desejo da justiça, a força para buscá-la, tornando os casos não só dos familiares, mas de toda a sociedade.