Dianne Leite
A cidade do Rio de Janeiro, apesar de ter sua beleza reconhecida por muitos, também tem a violência como grande marca. Aline Gama de Almeida, doutora em Ciências Sociais pela UERJ, elaborou a tese “In memoriam: imagens do sofrimento dos familiares de vítimas da violência no Rio de Janeiro” exatamente sobre essa temática, a violência, mas com um ponto de vista diferente: o dos familiares de vítimas de atos violentos na cidade e a visão dos fotojornalistas que presenciaram as cenas de crueldade.
A autora aborda o tempo como um “agente” que vai, além de trabalhar com o emocional dos familiares, transformar essa experiência, construindo a identidade de “familiar de vítima” e a formação da “comunidade emocional”, onde as pessoas vão apoiá-los na busca pelo direito de justiça. A partir do momento em que é noticiado um ato de violência, a população acolhe a causa e passa a dar apoio aos familiares na busca da justiça. Assim, esses registros de violência transformam a cidade em um “lugar de memórias”.
Durante a tese são
observadas fotos de cada caso e feitos questionamentos aos fotojornalistas e
familiares das vítimas sobre a escolha das fotos e a invasão na vida das
famílias. Um dos casos retratados na tese é o da chacina de Realengo, onde se
afirma que a escolha das fotos com lágrimas é para denunciar e causar comoção
nos leitores.
Há também depoimentos de
pessoas que perderam seus familiares, mostrando a dor da perda e da impunidade,
como o da Flávia, que afirma: “É uma dor absurda. É uma coisa, uma foice que te
corta ao meio e fica remexendo em todo o seu corpo. E dói, dói muito, muito
mesmo... Com o tempo, você aprende a lidar, mas continua doendo.” Ela também
fala que o tempo cura tudo.
Aline conclui que
analisar as imagens dos familiares de vítimas de violência produzidas por eles
ou por outras pessoas sobre eles, em que a memória do ente é continuamente
alimentada, foi e é importante para compreendermos tanto as consequências
quanto a manutenção da violência na vida dessas pessoas. Esse sentimento de
revolta gera outros como o coletivismo, o desejo da justiça, a força para
buscá-la, tornando os casos não só dos familiares, mas de toda a sociedade.