terça-feira, 25 de junho de 2013

Corrida de rua ganha cada vez mais adeptos

                                         Risco de lesões é alto se praticada de forma inadequada

Thayz Guimarães


Eleita pela Forbes a 8ª prática desportiva mais saudável do mundo, a corrida de rua tem se popularizado cada vez mais, tanto profissionalmente, como a nível amador, “recreacionista” – só na cidade do Rio de Janeiro, até o momento, estão previstos para 2013 37 eventos oficiais de corrida urbana. E isso graças ao seu caráter democrático, baixo custo e à fácil adaptação. No entanto, cada pessoa se move de uma maneira diferente, por isso, se praticada sem orientação e/ ou de forma inadequada, a corrida pode se tornar uma grande vilã, provocando desde lesões leves até problemas mais graves.

Segundo o professor José Maurício Carmo, médico ortopedista e cirurgião de mão, as lesões do atleta corredor frequentemente acontecem porque ele não está preparado para executar aquele exercício físico e o faz amadoristicamente. “O sujeito coloca um short e sai correndo, é assim que todo mundo faz, foi assim no passado e vai continuar sendo. Mas é importante que ele lembre que, se não usar um calçado adequado, ele vai sobrecarregar o pé, especificamente pelo impacto”, comenta o professor que também é o atual responsável pela UDA (Unidade Docente Assistencial de Ortopedia e Traumatologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto – HUPE).


Está provado que o esporte, em geral, não faz bem só fisicamente, mas também mentalmente, inclusive, que ele substitui muitos medicamentos, principalmente os ligados à pressão arterial. No entanto o problema é que muita gente começa a correr sem avaliação física. “Primeiro de tudo, é fundamental o que nós chamamos de avaliação pré participação. Muitos casos de morte subida podem ser evitados assim. A avaliação e o acompanhamento regular contribuem para a diminuição de lesões e possíveis fatalidades”, alerta João Marcelo Castelpoggi, médico ortopedista do HUPE, membro da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte.
Em novembro do ano passado, a estudante de Jornalismo da Uerj Paula carvalho, teve um edema ósseo provocado por estresse, ou seja, por esforço extremo. Além de correr, Paula fazia treino funcional na areia, musculação e pilates. “Eu não descansava há algumas semanas, eu ia correr de domingo a domingo. Não senti dor na hora, mas depois, quando relaxei, comecei a sentir. Doía muito na hora de pisar. Fiquei praticamente dois meses sem correr. Antes disso, voltei a fazer pilates e malhar com cuidado. Mas correr, demorou um pouco.”, contou Paula.


Durante a corrida, colocamos, em média, de quatro a seis vezes o nosso peso sobre o apoio dos pés, informa João Marcelo. E isso serve de alerta para quem sofre com sobrepeso. José Maurício explica,“Se a pessoa está 10Kg acima do que deveria estar, isso significa que, durante a corrida, serão 40Kg a mais sobre o apoio dos pés. Nesse caso, é recomendado que o exercício seja acompanhado de dieta, prescrita por um nutricionista, por exemplo.”, aconselha o ortopedista.

A escolha do calçado também é fundamental para uma prática saudável. Mas o que muita gente não sabe é que tênis de caminhada e tênis para corrida são diferentes. “Você deve solicitar um tênis de corrida, e não um tênis de caminhada. O tênis de corrida é mais preparado para o impacto, possui amortecedores para essa finalidade. As lojas de esporte já tem isso organizado, e esses tênis são, geralmente, mais caros, mas você tem uma série de variedades comerciais, com amortecedores diferentes, etc.”, explica José Maurício.

O tipo de pisada do corredor também deve ser analisado. De acordo com João Marcelo, é por meio do teste de avaliação de pisada, ou plantigrafia, que se determina se a pisada é pronada (pé pisa para dentro), ou supinada (pé pisa para fora). O ideal seria que a avaliação fosse feita por um profissional de educação física ou por um médico, mas, segundo José Maurício, o atendente da loja também pode resolver essa questão, sem problemas.

LESÕES MAIS COMUNS

De acordo com os ortopedistas do HUPE, o apoio do pé é feito em dois pontos básicos: no calcâneo e no antepé, que inclui os dedos. A pisada começa com apoio no calcâneo (calcanhar), transmite para o arco plantar (planta do pé), e a propulsão é feita pela ponta dos pés (força na panturrilha). Os membros mais afetados são os pés, mas joelho e quadril também são muito sobrecarregados pelo impacto.

As lesões mais frequentes provocadas pela corrida de rua, segundo João Marcelo, são, no pé, a fascite plantar, que é uma inflamação do tecido da sola do pé, e causa muita dor, principalmente na primeira pisada do dia e após a prática da atividade; no joelho, a tendinite patelar, relacionada a alterações anatômicas do atleta, e a síndrome da banda elitibial, conhecida como “joelho do corredor”. Ambas provocam dor intensa no joelho durante a atividade física; e, a mais grave, fratura/ lesão por estresse, provocada por uma sobrecarga de exercícios, bastante comum em corredores amadores. Esse tipo de lesão é mais comum em mulheres, afirma João Marcelo, “devido à desnutrição e problemas hormonais, ligados à sobrecarga de atividade física e também devido à anatomia dos seus membros inferiores”.

O médico ortopedista e cirurgião da mão do HUPE, explica que a dor é um alerta. “Se tem dor no joelho, na perna, é porque alguma coisa tem ali. De maneira geral, a pessoa deve estar correndo demais, muito rápido, de forma errada, com um calçado inadequado ou em terreno inapropriado. O indicado é reduzir a carga de treinamento, fazer bastante alongamento e reforço muscular. Se a dor persistir, procure um profissional de educação física e/ ou um médico imediatamente”, aconselha José Maurício.

Idosos e pessoas com histórico de lesões ou problemas cardiovasculares não estão proibidas de praticar a corrida de rua, mas devem passar por avaliação médica antes. “Uma pessoa de idade mais avançada não está proibida de iniciar na corrida de rua, no entanto o aparelho cardiorrespiratório dela já está mais fraco do que quando essa pessoa era nova, por isso a avaliação médica é fundamental”, pondera José Maurício.

O JEITO DE CORTAR UNHA INFLUENCIA NA QUALIDADE DA CORRIDA

Existe também outra lesão extremamente comum que é a lesão da unha. Nas palavras do responsável pela UDA/HUPE “ É muito comum, após uma maratona, o atleta estar sem unha ou ter sangue dentro dela, devido à sobrecarga. A unha é uma estrutura de proteção, própria para receber impacto. Mas ela não está ali sozinha, ela está ligada ao dedo. Na medida em que a pessoa traumatiza muito esta área, a unha descola. O melhor é ter sempre as unhas curtas, mas não curtas demais, no tamanho natural, e quando cortar a unhar, corta-la curva, mas não curva demais, porque se ficar curva demais, pode provocar outras alterações como unha encravada e micose.”

Segundo ele, a unha é a região de maior impacto do pé. A maneira de corta-las faz toda a diferença, porque elas são uma estrutura de proteção. O ideal é deixa-las sempre curtas, aparando-as em formato mais arredondado, mas não muito, acompanhando o desenho natural das unhas mesmo.

MEDICINA ESPORTIVA E OS GRANDES EVENTOS

Apesar da Uerj não possuir um setor específico de medicina esportiva em seu hospital universitário, está aberto um concurso para contratação de mais sete ortopedistas para a casa, dois gerais e cinco especialistas. A medicina esportiva não consta nesta lista, mas, o objetivo, segundo o professor José Maurício, é tentar inseri-la no HUPE por meio de aproveitamento dos médicos, tendo um ambulatório pronto para daqui um ano, “A Copa, as Olimpíadas vem aí. O Estado precisa se preparar”, comenta José Maurício.