* Frei Dino
Não costumo ver televisão durante o dia, a não ser algum jogo de futebol e, somente quando posso, acompanho o jornal das dez na Globo, canal 40. Numa noite, fiquei mudo diante de uma afirmação do Governador SERGIO CABRAL: “quem de vós não teve uma namoradinha que engravidou e procurou um aborto”? Não se trata de julgar ou condenar ninguém, pois não é esta a minha missão; mas ninguém pode me proibir de fazer minhas reflexões e tirar minhas conclusões; eu me pergunto: SERGIO CABRAL falava como homem público, revestido de cargo político ou como simples ser humano que faz uso de sua liberdade (ou libertinagem!); será que ele estava procurando uma desculpa, fazendo uma confissão pública de seu crime, ou estava induzindo uma sociedade a aceitar a lei do aborto como se aceita a lei do salário mínimo? Pergunto-me: que sentido tem defender uma posição que contraria não a igreja católica - coitada dela - como se fosse inimiga do povo e não defensora de um princípio que por si já não teria necessidade? Pergunto: será que ainda existe a lei natural? E a regra de ouro? E os direitos humanos? Será que o ser humano está caminhando para uma sociedade aonde cada qual tem seu lugar, sua liberdade e seus direitos? É engraçado, quando acontece alguma quebra de lei, logo começa um processo. Eu que o digo; por ter involuntariamente provocado o corte de uma árvore, logo veio encima de mim - e não reclamo por isso - assumo o erro e pago devidamente à sociedade. Mas quando se trata de acabar com uma vida, aí vai; não somente a lei recua, mas uma sociedade desvirtuada surge em defesa de alguém que se não queremos chamar de criminoso - certamente não respeitou a liberdade do outro que tem os mesmos direitos... O SERGIO CABRAL nos canais da Globo espalhou sua tese aos quatro ventos. Será que alguém teve o mesmo direito de resposta? E a Imprensa escrita? Será que todos se acovardaram ou implicitamente - por interesses espúrios - calaram de propósito; para não negar tudo, me parece que só uma carta foi publicada reclamando da fala do Governador e por tanto em favor da vida. Na noite de Natal eu falei abertamente rejeitando a postura do Governador - seja como homem privado que como homem público, e afirmei a sacralidade da vida em todos os seus estágios e em todas as suas condições. A VIDA NÃO É UMA COISA QUE SE ACEITA OU NÃO; A VIDA É UM DOM QUE SE RECEBE, SE DEFENDE, SE PROTEGE, SE AMA E SE DÁ AOS OUTROS. NÃO SE TIRA DE NINGUÉM. QUEM NOS DÁ ESSE DIREITO? NÃO SE PODE AFIRMAR: O CORPO É MEU E FAÇO O QUE QUERO...CRENTE OU NÃO CRENTE, como pessoas que pensam, temos uma consciência que nos diz: não faça ao outro o que não quer para si mesmo.
* Frei Dino é Pároco da Igreja São Francisco de Paula, na Barra da Tijuca