terça-feira, 25 de janeiro de 2011

ESPECIAL TRAGÉDIA - Chuvas causam maior tragédia natural do País em número de mortos, e pode gerar ainda mais

Luan Seixas
Com mais de 840 vítimas fatais, e cerca de 500 desaparecidos, a chuva que atinge na serra fluminense é a maior tragédia ambiental do Pais em número de mortes. A tragédia passa os temporais que atingiram Caraguatatuba, em 1967, quando foram registradas 436 mortes

Segundo o meteorologista do Inpe Giovanni Dolif, a estação meteorológica do centro de Teresópolis registrou 124,6 mm em 12 de janeiro, quase metade da média histórica, medida desde 1913, de 290,4 mm para o mês, na região.

Até o dia 20 de janeiro, foram 250,2 mm de chuva, o que também faz quase metade do janeiro mais chuvoso que as cidades serranas do Rio já viveram, em 2007, quando choveu 517,8 mm. O mês mais chuvoso da região foi dezembro de 1937: 558 milímetros.

Em conversa com o Cidade da Barra, o meteorologista lembrou-se de algumas tragédias causadas por chuvas recentes na história do país, como o Morro do Bumba, em abril de 2010, Angra dos Reis, no início do ano passado, Vale do Itajaí, em 2008, entre outros, mas alertou que a soma do número de mortos ainda não chegava ao já registrado na região serrana.

Dolif lembrou que em Caraguatatuba, em 1968, chegou a chover cerca de 500 milímetros de uma só vez, mas que o número de mortos foi menor. “O estrago material, com queda de barreiras e deslizamentos, deve ter sido maior. Mas o número de mortos foi menor, afinal, a cidade tinha uma população menor naquela época,” diz. “A tendência desses desastres naturais é sempre piorar, por causa da maior ocupação, mais construções, etc.”

Histórico

O Rio de Janeiro é um Estado onde as tragédias naturais se repetem. Só o ano de 2010 foi marcado por duas grandes tragédias provocadas pelas chuvas. Na madrugada do dia 1º de janeiro, logo após as festas de réveillon, parte da pousada Sankay, na Praia do Bananal, além de sete casas vizinhas foram soterradas em Angra doe Reis.

No Morro da Carioca, pelo menos 20 casas foram atingidas, totalizando 53 mortos na cidade do sul fluminense. No dia 7 de abril o acúmulo de água provocou um grande deslizamento de terra no Morro do Bumba, em Niterói e em toda a região metropolitana da capital. Dezenas de casas construídas em cima de um antigo lixão, no Morro do Bumba, foram soterradas em uma tragédia anunciada.

As 47 vítimas, além de centenas de desabrigados pagaram um preço alto pelas construções feitas em áreas de risco. No total, mais de 250 mortos foram contabilizados no Rio e em municípios vizinhos. Niterói é uma cidade marcada por tragédia.

Durante a tragédia do Morro do Bumba, moradores ainda recordam e evocam a tragédia de 17 de dezembro de 1961, quando um incêndio causou a morte de cerca de 500 pessoas (70% delas crianças) na cidade.

Em 2008, a alvo da força das águas foi Santa Catarina. A tragédia começou no dia 22 de novembro e deixou 137 mortes em mais de 60 cidades afetadas. Mais de 1,5 milhão de pessoas e pelo menos 25 comunidades sumiram do mapa.

Conhecida como uma das maiores tragédias naturais da história do Brasil, as fortes chuvas que resultaram em grandes deslizamentos de terra na serra de Caraguatatuba, no litoral norte paulista, mataram 436 pessoas e soterraram centenas de casas. Cerca de 30% da população ficou desabrigada e diversos desaparecidos nunca foram encontrados

Barra também é área de risco

Estudo realizado pela Prefeitura do Rio de janeiro mostra a existência de pelo menos 18 mil residências em áreas de alto risco de deslizamento em 117 favelas no entorno do maciço da Tijuca, zona norte e na serra da Misericórdia (área que abrange cerca de 43,9 quilômetros quadrado no município do Rio de Janeiro e está localizada após uma faixa de baixada de aproximadamente 6 km ao norte do maciço da Tijuca e 3 km da costa oeste da Baia de Guanabara no ponto mais próximo de seu relevo: o bairro da Maré).

O levantamento engloba ainda a área formal da cidade, já que o maciço da Tijuca tem acessos através de bairros como Barra da Tijuca, São Conrado, Alto da Boa Vista, Cosme Velho, Laranjeiras, Humaitá, Jardim Botânico, e Santa Teresa. Nesses casos, em se tratando de área particular, o proprietário do terreno em área de risco será notificado a executar o projeto sugerido pela Geo-Rio.

Após os temporais do mês de abril, que causaram centenas de mortes na cidade e traumatizaram a população carioca, o município encomendou um mapeamento para rastrear com o máximo de detalhamento possível a possibilidade de novos deslizamentos em 13 quilômetros quadrados de encostas de 52 bairros, dos quais 30% estão localizados em áreas consideradas de alto risco.

Cerca de 1.800 agentes de saúde do Programa de Saúde da Família foram treinados no ano passado e estão responsáveis por coordenar as primeiras ações em situações como chuvas, alagamentos, deslizamentos de encosta e risco de desabamentos.

O grupo já está presente em 25 das 117 comunidades apontadas no levantamento, o que significa que mais de 40% das famílias em áreas de alto risco já contam com a atuação desses agentes. O mapeamento foi apresentado no dia 6 de janeiro pelo prefeito Eduardo Paes no Centro de Operações Rio.

O planejamento das ações realizadas pelo Geo-Rio, de acordo com o prefeito, vai durar 12 meses e tem como objetivo principal criar soluções que permitam com que os moradores continuem vivendo nas comunidades, em detrimento de ações que os retirem dos locais onde residem.

Paes alerta ainda que o número de imóveis identificados como em áreas de alto risco de deslizamento pode crescer já que a prefeitura vai começar a analisar de forma mais aprofundada o levantamento em outras áreas da cidade, como o maciço da Pedra Branca.

“O mapeamento, a princípio, teve um olhar prioritário para as áreas mais pobres da cidade. Os técnicos visitaram estas comunidades. Já os problemas localizados em propriedades particulares vão ser notificados aos proprietários, para que eles façam as obras. O que for área pública será feito pela prefeitura.”

Além disso, o número final pode ser maior, por que, assim como afirmou o prefeito, os técnicos vão detalhar o número de imóveis particulares localizados em áreas de ocupação formal da cidade no entorno do maciço da Tijuca que também estão suscetíveis a deslizamentos.

De acordo com o mapeamento, os imóveis privados estão situados em bairros como Barra da Tijuca, São Conrado, Alto da Boa Vista, Jardim Botânico, Santa Teresa, Cosme Velho, Laranjeiras e Humaitá