sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Eike, demonstra desconhecer a real história da casa que abriga o restaurante Mr.Lan

Afonso Campuzano
Numa entrevista concedida ao jornalista Jorge Basto Moreno – Sábado, 26 de dezembro de 2009 – O Globo - Saiba como Eike construiu sua fortuna -, Eike declara: “Só depois que eu comprei é que soube que aqui era um lugar amaldiçoado porque era um depósito de escravos que eram castigados até a morte”. E você, leitor, acha que só pobre é que é enganado na hora de comprar um imóvel? A sorte é que Eike mandou enterrar ali uma barra de cobre para acalmar os espíritos sofredores.
O empresário parece sensacionalizar o ambiente de seu restaurante Mr. Lan, na Lagoa Rodrigo de Freitas, e demonstra total desconhecimento sobre as origens da casa da Rua Maria Angélica, quando diz que desconhecia que “o lugar era amaldiçoado por ser ali um depósito de escravos que eram castigados até a morte”. Conversei com ex. proprietária e ex. moradora da casa vizinha, a de número 33, hoje 37, desde os seus 5 anos de idade e que só saiu de lá depois de vender a casa para o prefeito de Niterói e que a repassou então para a pizzaria Capricciosa. Hoje com 95 anos, a senhora que prefere ficar no seu anonimato contou que foi morar na casa no ano de 1920 e disse: “estou totalmente lúcida, ainda cozinho e podem me chamar de Maria da Fonte”. “Maria da Fonte” conta então com detalhes toda a história da “casa dos escravos e das lavadeiras”.
Nota da redação: Algumas dessas lavadeiras moravam numa avenida que tinha entrada pela Rua Alexandre Ferreira e outra pela Lagoa. Dentre elas pode-se lembrar da Dna. Miquelina, Leopoldina, Fernanda, etc. Tanto a casa da Rua Maria Angélica – ao todo eram oito e mais a última comercial conhecida à época como o armazém do seu Pereira - Casa Oliveira - e hoje como Adega do Porto, a avenida que ficava atrás das casas, as de frente para o canal da Rua Alexandre Ferreira – inclusive onde morava a senhora Eliete, mãe do atual Secretário de Transportes Júlio Lopes, todas elas foram construídas pelo Dr. José de Castro Goyana. Castro Goyana tinha uma filha de nome Yolanda que se casou com o advogado Fernando de Carvalho – expert em transações imobiliárias – que ficou incumbido de comercializar todos estes imóveis. Foi quando ele conheceu um espanhol que veio a se casar com a “Maria da Fontes” (ela era afilhada de Antonio Fernandez Alvarez Pereira, irmão da sua bisavó - proprietário da fábrica de cigarros e da Tabacaria Londres, na Avenida Rio Branco) e pediu-lhe para ajudá-lo a vender tais casas. Como o espanhol já seu cliente, conseguiu vender a maioria, recebeu de comissão a casa de número 3 da avenida que tinha o nome de Yolanda. Essa casa, era de frente para à Lagoa e tinha fundos para a “casa dos escravos” – restaurante Mr. Lan. Em meados de 1930, a “casa dos escravos” como estava abandonada foi invadida por uma senhora de nome Dulce e seus dois filhos, depois a Dna. Maria que tem um filho de nome Walter e que hoje é titular de um cartório no Rio de Janeiro e, como último morador, um casal com duas filhas. Na época, as águas da Lagoa batiam exatamente nas paredes dessa “casa dos escravos” e o seu morador muitas vezes pegava um barco para fazer a sua travessia e pescarias.

ODE À LAGOA
HINO A UM CENTRO DE VIDA
LAGOA EM DEPOIMENTO HISTÓRICO DE UM MORADOR

* Brenildo Tavares: “Criança ainda, (1936) morador da rua Frei Leandro – Jardim Botânico: Peixes, lembranças muitas tenho
E aqui falar venho
Das pescarias de tio Vitor e adultos amigos
Que sem perigos,
Saiam em altas noites e madrugadas chuvosas.
Em barcos estreitos, esguios deslizavam
Percorrendo a água calma distante do meio da Lagoa.
Onde pingos respingavam formando curiosas figuras
Mal vistas na escuridão reinante.
Redes finas levadas em latas de querosene e banha, bem lavadas,
Na ousadia e esperança de enche-las pesadas regurgitantes.
Depois da jornada
Trazidas de volta às duas da madrugada
Com mais de vinte quilos de peixe cada uma
Como vi certa vez sem dúvida alguma.
Mas não era só ir lá e apanhar.
Tinham que trabalhar, Lutar
Como pescadores diligentes na aventura
Da captura Palpitante