sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sursum Corda "Corações ao Alto"

* Frei Dino
Continuando minhas reflexões pessoais, que certamente todas fazem, pois nenhum de nós é um ser tão único que somente a ele cabe fazer, nestes últimos dias, vários acontecimentos me chamaram atenção. Seja na ordem sócio-política como na ordem humana e religiosa, o povo parece alienado diante de tantas calamidades, diante de tantas injustiças, diante de tantos apelos que são apresentados por várias fontes.
Não quero abrir um leque amplo de mais, para não me tornar ingênuo e superficial; quero me deter sobre um evento que aconteceu no Centro Social da Igreja no dia 12 de Agosto, próximo passado. Estou falando do Hemorio, que chegou à sua quinta edição. De manhã já podia pressentir uma falta de entusiasmo, demonstrado não pelo pessoal da saúde, que trabalhou com alegria, e sim pela ausência de potenciais doadores.
A decepção foi maior, quando no final do dia tomei conhecimento de que haviam sido recolhidas 44 bolsas de sangue. Não tiro o mérito e o meu mais profundo agradecimento a quantos se fizeram presentes, respondendo a uma necessidade humana; mas uma grande interrogação surgia em minha alma: o que está acontecendo? Porque não houve resposta adequada? Foi falta de divulgação? Mas quantas vezes foi o hemorio anunciado nas missas? E as notas nos jornais? Inclusive neste e no Testemunho de Fé? E por onde acabaram os cinco mil folhetos que Maria Helena Cantamissa providenciou solícita como sempre? E as conversas e apelos em vários condomínios, ou locais de trabalho, como por exemplo, o correio da Olegário Maciel?
Entendo que a situação atual inspira medo e cuidados. Sei que muitos não podem doar seu sangue a causa de inúmeras razões, mas puxando o questionamento, pergunto: qual é a população da Barra? Quantos freqüentam a paróquia?
Eu nem posso acreditar! Note-se, entre parênteses, que prévias campanhas foram muito melhores; a última do ano passado coletou 59 bolsas.
Meu transtorno se faz mais forte: o que está acontecendo? Será que o ser humano está ficando surdo diante dos apelos do outro? Será que se acomodou, fechado em seu próprio mundo? E que os outros não existem? Será que se perdeu a sensibilidade diante do sofrimento e a angustia do seu próximo? Será que a sociedade está evoluindo em lugar de evoluis? Será que o individualismo e o egoísmo é a única bandeira levantada sobre os telhados de nossas casas?
Corações ao alto! É um grito de oração, de jubilo, de encorajamento.
Esta é a conclusão que gostaria tirar diante de uma experiência pouco animadora. O Ser humano é um ser aberto ao infinito, desejoso e em busca de felicidade, de plena realização? Mas será que isso é possível quando uma pessoa e se encolhe na concha do seu egoísmo, ou, pior: quando vive desesperançado, quando cessa de acreditar que é possível um mundo mais fraterno e justo.
É importante recordar que o Hemorio na paróquia surgiu como projeto da Campanha da Fraternidade.
Nós acreditamos na vida ("Vida para Todos"), nós acreditamos no Amor, porque fomos amados. O mandamento de Jesus é que nos amemos uns aos outros. E Doar Sangue não é um ato de amor?
Corações ao alto! Vamos olhar para frente; olhemos ao nosso redor e tomemos conhecimento dos que sofrem, sabendo que sua sobrevivência depende de nós. Sejamos construtores da cultura da vida.
Corações ao alto!
* Frei Dino é pároco da Igreja São Francisco de Paula