*Larissa Gobbi
Em meio a praias, prédios e uma vida urbana movimentada, há quem encontre uma forma de burlar o caos e levar uma vida simples.
Morador da Barra da Tijuca há 25 anos troca uma cobertura na Rua Guedes da Fontoura por uma casa de 1.000m² no Jardim Oceânico. Até aí tudo bem, se não fosse o motivo pela troca. Afonso Cobaléia, produtor
de eventos de 48 anos, há dois anos optou por este estilo de vida não somente para criar seus dois filhos, João
Pedro,de 5 anos, e Carolina de 3, com certa liberdadeque os apartamentos não permitem, mas também para
pôr em prática uma antiga paixão pelos animais. Paixão esta que fez com que possua, hoje, cerca de 100 animais em sua casa, divididos entre ovelhas, galos, galinhas, coelhos, porcos da Índia, tartarugas, ramisters, pintinhos, canários, marrecos, entre outros. Chamada carinhosamente de “Casa da Roça”, nela vivem Cobaléia, seus dois filhos, a babá, os dois filhos dela e os vários animais, todos harmoniosamente. O motivo pela mudança, diz Cobaléia, é para que seus filhos cresçam interagindo com os animais, entendam o sentido da vida, do nascimento à morte, pois no momento em que um coelho nasce um pintinho pode morrer, e assim as crianças aprendem a lidar com essa questão. Para que também aprendam a conviver com as Em meio a praias, prédios e uma vida urbana movimentada, há quem encontre uma forma de burlar o caos e levar uma vida simples Casa Roça no Jardim Oceânico Um zoológico nos arredores da Barra Iniciativa não se limita à sua casa diferenças, a respeitar os outros, porque vendo os animais convivendo em harmonia mesmo entre espécies diferentes, as crianças aprendem a ser mais tolerantes e isso fará com que sejam adultos melhores, essa troca melhora as relações humanas. Ele e os seus acordam cedo todos os dias para alimentaram os animais com folhas de couveflor, de cenoura, brócolis, tudo o que seria mandado para o lixo, ele vai e recolhe do Hortifruti que colabora, assim como o Supermercado Mundial e o Barra Carnes. Também são consumidos
pelos animais cerca de 300kg de milho por mês, que são comprados. Todo esse compromisso demonstrado é causa de uma infância sem essa liberdade, por isso preza que seus filhos mexam com terra, andem descalço - diferente da maioria das crianças de hoje, que vivem em apartamentos equipados
com ar-condicionado à todo vapor e sob severa vigilância de todos e até equipou seu quintal com uma casa na árvore, playground, tudo para os animais e seus filhos. Mas não pense que todos amam a forma como Cobaléia vive, há quem reclame do barulho que os animais fazem, do excesso de bichos, mas para isso ele tem uma resposta relevante: - É melhor acordar com o canto do galo do que com tiroteio.
Iniciativa não se limita só à sua casa
Visando mudar cada vez mais a forma como as crianças interagem com a natureza, Cobaléia faz nas quartas ou sextas de cada semana o Cine Roça, que consiste em convidar os amigos do colégio dos filhos, vizinhos, filhos de conhecidos, para irem assistir a um filme ou desenho no seu quintal, com direito a retro projetor, sistema potente de som e o mais importante, interação simultaneamente com os bichos. Há também um projeto que começou a ser posto em prática recentemente, mas que aos poucos está ganhando força, que faz com que os animais sejam levados às escolas, para as crianças brincarem, aprenderem que podem ter vários tipos diferentes de uma mesma espécie, que animais distintos convivem bem juntos, além do desejo de fazer o mesmo com crianças especiais, levar os animais para esses colégios, porque as crianças especiais, segundo ele, já são privadas de muitas coisas e essa interação seria importante para a formação deles. Em suma, Afonso Cobaléia é um homem como muitos outros que se desdobram entre família, amigos, trabalho, mas que não se priva dos simples prazeres que a vida lhe propõe. Corre atrás do que quer, de sonhos, desejos, masnunca esquecendo das pessoas ao seu redor. Antes do fechamento desta matéria, o jornal Cidade da Barra foi informado pelo próprio Cobaléia que a Prefeitura está demonstrando interesse em retirar os animais de sua casa sem motivo aparente. Esperamos e torcemos pelo melhor. Traremos mais informações na próxima edição.
* Larissa Gobbi é jornalista