quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Na Orla do Rio, o Niterói de Ipanema

O nome dele é César Pereira, mas na praia só é chamado de Niterói, apelido que herdou do pai. E não foi só o apelido que o pai deixou para ele. O quiosque em Ipanema, na Avenida Vieira Souto, em frente a Farme de Amoedo, que era do vovô Niterói (pai de César) desde 1982, há mais ou menos 16 anos é de César, o simpático Niterói.
Um pouco tímido ele conta que quando assumiu o estabelecimento em 1992, depois da reforma dos quiosques, vendeu uma kombi e investiu todo o dinheiro para capital de giro. Logo, ele percebeu que precisava ser diferente dos vizinhos. “Era normal o coco, então nós começamos com chopp e coco. De repente eu percebi que o ideal era partir para o lado da comida e eliminar o coco, que todos os vizinhos tinham”, diz.
Até hoje o foco do quiosque é todo na comida. O chopp acabou sendo substituído pelas latinhas de cervejas, porque a demanda era muito grande e a prefeitura não permitia tantos barris. A solução foi a latinha, que também é muito vendida.
Nascido e criado em Ipanema, hoje Niterói mora com a esposa, Ana Paula e a filha Clara, no bairro Maracanã. A casa funciona como uma grande cozinha, na qual ele faz as deliciosas empadas, diversos pastéis de forno e até quentinhas. Tudo em um esquema de congelados para depois levar ao quiosque.
Cozinheiro, formado pelo SENAC, exercita sua profissão no pequeno e apertado estabelecimento. O carro chefe é o caldinho de feijão, que segundo ele, faça frio ou um calor de 40 graus os clientes sempre pedem. “Se faltar o cliente briga exige, esse não pode faltar. É de segunda a segunda”, diz.
Todo verão o quiosque lança duas ou três novidades. No último foi o quiche. Tinha de quatro queijos, alho poró e três queijos com peito de peru. A idéia veio da filha, Clara de cinco anos, que mesmo pequena já dá os seus palpites nas comidas do quiosque. “Papai vamos ver uma coisa nova pro quiosque? Ela pegou o livro de culinária e começou a folhear. Vamos fazer quiche papai? Então eu botei a mão na massa”, conta o pai orgulhoso. Mas quando passa a temporada a novidade acaba, porque é muito trabalhoso.
Para o próximo verão, Niterói já está pensando no que vai lançar. Provavelmente será peixe frito com salada, arroz de polvo e espaguete com frutos do mar, que será possível com o projeto da Orla Rio.
Quanto ao projeto, ele se diz ansioso. Acredita que melhorará e muito as condições de trabalho. Diferente do projeto de Copacabana, a cozinha será menor e no nível da rua, mas também terá banheiro e o número de mesas, que hoje é de seis, provavelmente irá aumentar. Niterói está otimista.
Com o verão, além dos lançamentos de Niterói, tem também os turistas estrangeiros. Ele não fala inglês, mas no quiosque tem o cunhado e o irmão que falam. “Tem o próprio cliente que ajuda e adora fazer o RP (relações publicas), ser o interprete”, conta ele. Niterói que não conseguiu conciliar com seus horários com o curso de conversação oferecido gratuitamente pelo Pan 2007 assume que o inglês é muito necessário.
A família toda sobrevive do quiosque e a maioria trabalha nele. “Todo mundo trabalha aqui, eu meu cunhado que casou com minha irmã, o irmão dele, a esposa, a família toda sobrevive do espaço”, diz Niterói.
Mas as dificuldades existem e a principal é a concorrência com os camelôs da areia. “A caipirinha e a capivodka, que nós oferecemos aqui, eles oferecem lá em baixo por um custo bem mais baixo, porque não pagam aluguel, não pagam luz, não pagam água. Então aqui a gente tem uma certa dificuldade de sobrevivência devido essa concorrência desleal”, observa. Também chama atenção para a falta de fiscalização na areia, que tornam a concorrência ainda mais difícil.
No inverno abre de 9h às 20h, no verão e carnaval esse horário é mais flexível. E até em dias nublados a clientela fixa está presente. Para ele o segredo é ser comunicativo e ter visão de negócio. “Você precisa colocar o material de consumo com o nível da sua clientela. É preciso comunicação, aqui você é amigo, psicólogo e pára-raio”, brinca.
O local onde é o quiosque na praia é conhecido como o ‘point’ dos homossexuais. E aos 54 anos, Niterói mostra que tem uma ‘cabeça aberta’. “Eu gosto de atender. É um público seleto e muito educado. Na maioria das vezes são pessoas de opinião muito forte, com críticas construtivas e para o meu negócio isso é muito bom”, diz.
Bem humorado o dono do quiosque costuma dizer que o quiosqueiro é um eterno otimista, um guerreiro criativo e ambicioso. “Sempre existe a expectativa de novidade, de criação. Você não pode perder o estímulo de forma alguma, apesar dos pesares. Não pode desanimar nunca”, reflete. Aqui você é amigo, psicólogo e pára-raio".