Rio, Chicago anos 30
Ricardo Labatt
A eclosão do confronto com uma das maiores facções do Estado, onde as autoridades, tais quais os grandes chefes delas, lançam na linha de frente apenas peões descartáveis, fez, por um lapso de tempo, a população entender o tamanho do problema a ser enfrentado, após décadas de inação.
O secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Cesar Carvalho dos Santos, em entrevista, à maior Rede de TV do País, afirmou que o Estado não tem condições de enfrentar sozinho o crime organizado.
Descreveu a situação de abandono, criado por décadas de inação. Uma realidade que mesmo estando diante dos olhos de todos, parece distante da percepção da população: - “São aproximadamente 9 milhões de metros quadrados de desordem.
Casas construídas de forma irregular, becos onde é impossível fazer o patrulhamento. E, os criminosos dominaram essa região”.
Enquanto isso, na linha de frente, o CV lança bombas por meio de drones em retaliação ao avanço das forças do Estado.
Governador lamenta e cidadão sofre.
O Governador tenta politizar o assunto, mas nenhuma vertente parece ter interesse em resolver o problema. Será que alguém imagina que um chefe de facção, sem dominar línguas, sem formação... sem conhecimento... seria o líder de alguma coisa? Não passam de “sargentos”. É óbvio que acima deles, na hierarquia do narcotráfico, existem tenentes, capitães, majores, coronéis e generais. Gente influente, que circula nas mais altas rodas e usufrui de muito dinheiro e poder, além de insuspeita idoneidade.
Onde estão os Deputados Federais e Senadores do Rio que não propõem um Projeto de Lei que permita abater, com drones aéreos, quem estiver portando armamento de guerra, sem porte, ou autorização do Estado ?
Onde eles estão quando os menos graduados da Polícia Militar, os Agentes da Polícia Civil e os Grupos Especiais são sacrificados na linha de frente contra armamentos que não são produzidos no Brasil, mas se encontram em cada viela de uma comunidade dominada, onde o Estado não é a Lei?
Esta operação que transformou o Rio num inferno, travou as artérias da cidade, criando um pesadelo e tendo ordens de fechamento para o comércio, em quase todos os bairros escancara a situação de falsa segurança em que se vive no Rio de Janeiro.
Diante de tudo isso e das constantes guerras entre facções, chega a ser risível a posição de alguns comandantes de Batalhão que se preocupam mais em articular armadilhas criminosas para punir cidadãos de bem, talvez por entenderem que o desconsideraram, ou apenas para agradar seus egos e, de lambuja, pleitearem elogios de moradores mimadinhos e desconectados da realidade, que lotam o 190 com reclamações sobre perturbação de sossego.
A cidade está dominada pelo crime organizado e os infelizes só olham para o próprio umbigo, se preocupam com moradores de rua à sua vista... acompanham reuniões com politiqueiros, agentes não operacionais que agem por likes e em busca de aprovações por ações administrativas, nada produtivas, muito menos heróicas.
Nesta terça Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, com mais de duas décadas de serviço na Polícia Civil, foi abatido aos 51 anos.
Rodrigo Velloso Cabral, que estava há apenas 40 dias na corporação, também morreu aos 34 anos.
Ambos foram atingidos durante confrontos com criminosos do Comando Vermelho, alvo da operação que mobilizou cerca de 2.500 agentes e visava cumprir mais de 100 mandados de prisão. A ação, marcada por cenas de pânico e destruição, reacendeu o debate sobre o custo humano das incursões policiais no Rio.
Quando a cidade irá entender que há de ser feito algo sério para erradicar o poder bélico dessas facções? E não passa pelo combate na linha de frente. Passa pelos Comandos. Pelos políticos. E, principalmente, pela sociedade que os elege, reelege e nada acontece.
Lógico que não se imagina que o tráfico seja erradicado. Que não mais existam milhares que alimentam essa rede criminosa, com seus líderes e financiadores que andam imponentes entre nós nas mais altas rodas...
O problema da banalização do uso recreativo, ou mesmo do vício é tratado com educação. Porém, não se pode conceber que áreas da cidade sejam Faixas de Gaza, tenham armamentos de guerra. Escravizem as populações do entorno.
Não se pode admitir que o Estado, com todo o seu investimento, não esteja presente e protegendo os habitantes dessa cidade. Levando os serviços sociais tão necessários, principalmente, nas regiões mais carentes, muito menos permitindo que os filhos destes sejam sugados para essa vida de crime. Pois, neste modelo de inação, isso só se amplia numa projeção geométrica.
Num lampejo de esperança, diante de uma realidade clara, que escancara toda essa crueldade, quem sabe um dia, após tanto sangue derramado, a população se convença que temos Al Capones, como havia em Chicago, nos anos 30. E, com certeza eles não são os gerentes de bocas, donos de morros e, nem os que os escolhem. Há bilhões envolvidos e isso não circula nas favelas.
É imperativo que se entenda que não adianta votar, ou apoiar, alguém que se destaca por xingar quem não gostamos. Essa política BINÁRIA é nociva para a sociedade. É um grupo xingando uns de “Cumunistas” e outro retrucando com “Fascistas”. Um circo interminável onde dois grupos se digladiam, os eleitos fingem serem opostos, agradam as “bolhas”, mas nada fazem de concreto, além de se confraternizam nos bastidores, longe das câmeras, fazendo o “teatro” dar audiência diante delas. Um culpando o outro e, vice versa, todo o tempo. Mas nenhum dos lados faz nada pela Cidade, pelo Estado, pelo País.
Até quando? Quem irá evitar que se apague a luz?
