Economia circular no enfrentamento da emergência climática
Edson Grandisoli*
Em 2024, o planeta registrou a temperatura média global mais alta já documentada, superando pela primeira vez um aumento de 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais, deixando para trás o Acordo de Paris. De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a temperatura média global no ano passado foi de, aproximadamente, 1,55 °C acima dos níveis pré-industriais, consolidando-se como o ano mais quente já registrado.
Esse aumento na temperatura, apesar de parecer pequeno, tem colaborado para o aumento significativo da frequência e intensidade de eventos extremos climáticos, incluindo, por exemplo, as inundações no Rio Grande do Sul e, mais recentemente, os incêndios florestais devastadores em Los Angeles.
Dessa forma, a estabilização e redução da temperatura do planeta, na busca por estabilidade climática, pode ser considerado o principal desafio socioambiental da atualidade, e requer mudanças sistêmicas e orquestradas em todos os setores das sociedades rapidamente.
Um dos caminhos apontados por diferentes especialistas é repensarmos e reorganizarmos globalmente o modelo linear de economia, pautado no trinômio “extrair, produzir e descartar” - que já provou sua insustentabilidade socioambiental -, considerando um modelo no qual o reaproveitamento de materiais e a regeneração se colocam como principais objetivos. Estamos falando aqui da Economia Circular.
A economia circular é um modelo econômico que estimula a reestruturação de todo o sistema atual de extração, produção, consumo e descarte, buscando (1) maximizar o uso eficiente de recursos; (2) minimizar o desperdício; (3) criar design para a reciclabilidade, reparabilidade e reaproveitamento; (4) buscar a redução do consumo e o consumo consciente; (5) reduzir a quantidade de resíduos e (6) estimular o uso de energias renováveis em todos os segmentos. Essa abordagem holística reduz a pressão sobre os ecossistemas e age diretamente para o enfrentamento da emergência climática, pois colabora para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
A complexidade e escala do desafio climático demandam, portanto, ações urgentes e que envolvam (e garantam participação) todos os setores das sociedades. Ou seja, colaboração, diálogo, corresponsabilização e criatividade são essenciais para as mudanças que todos precisamos no presente para o futuro. E a economia circular tem se mostrado como um caminho prático, possível e necessário para aliar o desenvolvimento socioeconômico à manutenção da qualidade do clima do planeta.
*Edson Grandisoli é coordenador pedagógico do Movimento Circular, é Mestre em Ecologia, Doutor em Educação e Sustentabilidade pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós-Doutor pelo Programa Cidades Globais (IEA-USP).
Criado em 2020, o Movimento Circular é um ecossistema colaborativo que se empenha em incentivar a transição da economia linear para a circular. A ideia de que todo recurso pode ser reaproveitado e transformado é o mote da Economia Circular, conceito-base do movimento. O Movimento Circular é uma iniciativa aberta que promove espaços colaborativos com o objetivo de informar as pessoas e instituições de que um futuro sem lixo é possível a partir da educação e cultura, da adoção de novos comportamentos, da inclusão e do desenvolvimento de novos processos, produtos e atitudes. O trabalho conta com a parceria pioneira da Dow, empresa de produtos químicos e plásticos, com sede em Michigan, Estados Unidos. O Movimento Circular contabiliza hoje 5 milhões de pessoas impactadas por suas ativações e conteúdos.