Celulares e alunos: uma combinação que pode dar certo
Familiarizados com a tecnologia, os estudantes devem utilizar suas habilidades digitais em atividades educativas supervisionadas
A proibição do uso de celulares na sala de aula é um tema cada vez mais debatido e que gera dúvidas entre educadores e especialistas sobre os benefícios e os desafios associados à essa medida. No Brasil, essa regulamentação se aplica às escolas públicas e privadas do estado de São Paulo com o objetivo de evitar distrações durante o horário de aula e promover um ambiente de aprendizado mais focado.
A utilização do aparelho como ferramenta pedagógica, quando orientado e supervisionado de forma adequada, tem se mostrado um recurso valioso no ambiente escolar. Algumas instituições de ensino já adotam uma abordagem equilibrada, permitindo o uso do telefone móvel em atividades supervisionadas e integrando a tecnologia de maneira planejada ao currículo, sempre com um propósito educativo. Plataformas de gestão de classe, como o Google Classroom, ajudam a restringir o acesso a redes sociais enquanto o aluno está na unidade de ensino, o que facilita o foco em atividades educacionais.
Segundo a psicopedagoga e escritora Paula Furtado, banir o celular no colégio não aborda a raiz do problema, que pode estar relacionada à forma como o aprendizado é conduzido. “Pessoas desmotivadas podem buscar refúgio em inovações, o que indica que a questão talvez esteja mais ligada à necessidade de inovar nas práticas educativas. Essa geração nasceu imersa na tecnologia, e ignorar isso pode aumentar a desconexão entre os métodos de ensino e o que os acadêmicos estão acostumados. Escuto relatos de pacientes que culpam alguns professores com suas aulas monótonas, o vilão da fuga para a tecnologia”, analisa Paula.
Compreender o momento adequado para usar o celular é primordial para os estudantes, a fim de garantir aulas mais fluidas e de qualidade. “Nessa fase, a escola deve aproveitar o interesse natural dos alunos para desenvolver habilidades eletrônicas que complementem o aprendizado tradicional. Isso inclui ensinar a usar esses recursos de forma segura e eficiente, preparando-os para os desafios do mundo digital”, esclarece a psicopedagoga.
Controlar o uso de celulares nos colégios requer a adoção de políticas claras e equilibradas, com o envolvimento essencial dos responsáveis. A comunicação entre a unidade de ensino e os pais é fundamental para que sejam informados sobre as decisões tomadas e possam reforçar, em casa, a importância do uso consciente dos dispositivos. De acordo com Paula, uma medida eficaz que os responsáveis podem adotar é o uso de ferramentas de bloqueio seletivo, que restringem o acesso a aplicativos inadequados durante o período escolar.
Fake news
A disseminação de informações falsas afeta a formação dos alunos pelo fato de muitos não terem desenvolvido habilidades de análise. Vetar o celular também visa impedir o acesso a conteúdos impróprios, que podem ser facilmente acessados por meio da internet. “As fake news também devem fazer parte do tema ‘conscientização’. É importante orientar as crianças a não acreditarem em tudo o que leem na internet, e ensiná-las a buscar fontes confiáveis e a verificar as informações. Quando houver dúvidas, é indispensável que consultem sites especializados na detecção de notícias falsas, como forma de desenvolver um senso crítico e evitar a propagação da desinformação. Sem contar que a distorção da realidade nas mídias sociais, por meio de imagens editadas e filtradas, pode afetar a autoimagem dos adolescentes, aumentando inseguranças sobre o corpo e a vida”, orienta Paula Furtado.
A tecnologia é um recurso que captura a atenção e motiva os acadêmicos. No entanto, estabelecer áreas específicas na sala de aula com restrição ao uso da tecnologia pode criar momentos de interação pessoal, leitura e escrita manual. Durante os intervalos, é comum ver crianças isoladas em seus celulares, muitas vezes em grupos, mas cada uma imersa em seu próprio mundo virtual, o que reduz a interação entre elas. “Criar espaços sem tecnologia pode ajudar a fomentar conexões mais significativas e contribuir, também, para a socialização e saúde mental dos estudantes”, pontua a profissional.
Paula Furtado
Paula é pedagoga, formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com especialização em Psicopedagogia, Neuropsicopedagogia, Educação Especial, Arte de Contar Histórias e Arteterapia pelo Instituto Sedes Sapientiae e Leitura e Escrita, também pela PUC-SP. A profissional já trabalhou como professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental na rede particular de ensino, e já atuou como assessora pedagógica em escolas públicas e particulares.
Paula Furtado atende crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizado. Nesta área da educação, a pedagoga ministra cursos para formação de educadores nas instituições de ensino pública e particular e realiza palestras para pais sobre a importância de contar histórias.
Como autora, Paula completa seu trabalho escrevendo diversos livros infantojuvenis (100 obras até o momento) e, dentro de suas atuações de jornada literária, também foi coordenadora e supervisora psicopedagógica em diversas publicações infantis (Contos de fadas, Lendas e Folclore) com Girassol Brasil e Mauricio de Sousa. A autora conclui suas atividades escrevendo para diferentes revistas de educação sobre temas pedagógicos, além de trabalhar na criação e patente de Jogos Pedagógicos como: Desafio, Detetive de Palavras, De Olho na Ortografia, dentre outros.