quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ESPORTE

Para o Brasil conseguir conquistar mais pódios em Los Angeles 2028 é fundamental falarmos já sobre a saúde mental dos nossos atletas

         

Bloqueio mental tirou a ginasta Simone Biles das Olimpíadas de Tóquio

Enquanto Los Angeles se prepara a todo vapor para receber os Jogos Olímpicos de 2028, uma coisa é certa, o Time Brasil precisa focar mais na saúde mental dos seus atletas, algo que vem ganhando força no meio esportivo, mas que necessita entrar de vez na agenda do nosso Comitê Olímpico.

Os dados são alarmantes, como mostra pesquisa recente divulgada pelo Grupo de Estudos em Psicologia do Esporte e Neurociências (Gepen) da Faculdade de Educação Física (FEF) da Unicamp, envolvendo atletas de alto rendimento. O estudo relatou que 3% dos atletas que participaram da pesquisa apresentaram sintomas de depressão grave, e cerca de 30% relataram sintomas leves ou moderados. Outros 5% apresentaram taxas graves de ansiedade, enquanto 16% sofrem com sintomas moderados do transtorno. Já 8% dos atletas afirmaram que precisavam tomar remédios para dormir por terem insônia recorrente. Além disso, 24% dos participantes afirmaram já terem pensado em suicídio, e outros 6% efetivamente tentaram cometer o ato.

Mas se ainda há muito o que melhorar no âmbito da saúde mental dos nossos atletas, a boa notícia é que a questão vem sendo cada vez mais abordada no meio esportivo.

Nomes de peso e formadores de opinião como a ginasta Simone Biles, o jogador de futebol Richarlyson e a fadinha do skate Rayssa Leal têm se manifestado sobre a importância de se cuidar da mente na mesma proporção que acontecem os treinamentos técnicos, em suas preparações. Biles, por exemplo, anunciou uma pausa na carreira justamente para cuidar do seu bem-estar psicológico, durante a Olimpíada de Tóquio, em 2021, mostrando uma enorme coragem e  virando, daí para frente, uma embaixadora da saúde mental no mundo dos esportes. Já  o jogador de futebol Richarlyson destacou a necessidade de saber lidar com comentários negativos e positivos para manter o equilíbrio emocional, enquanto a skatista Rayssa Leal compartilhou sua experiência ao iniciar a terapia para entender o peso das Olimpíadas em sua vida.

“Todos esses casos demonstram que é essencial cuidar do psicológico para atingir o melhor desempenho e enfrentar os desafios dentro e fora das competições”, explica o psicólogo Filipe Colombini, CEO e fundador da Equipe AT.

Conforme explica o especialista, a saúde mental deve ser uma pauta constante na vida dos atletas já que o desempenho está totalmente ligado aos cuidados com a mente. “A psicologia no esporte é fundamental para ajudar no desenvolvimento de estratégias comportamentais cognitivas”, diz Colombini. “A partir daí o atleta vai aprimorando habilidades específicas, para que tenha o melhor rendimento possível”, conclui.

O especialista acrescenta que o psicólogo do esporte ajuda os atletas na regulação emocional e no manejo da ansiedade. Entre as técnicas utilizadas, segundo Colombini, estão o mindfulness, que atua para aprimorar a concentração e o foco, fundamentais para aspectos técnicos relacionados às repetições inerentes aos treinamentos. “São várias as técnicas cognitivas que ajudam a refinar a performance e trabalhar a saúde mental dos atletas”.

O cuidado com a saúde mental, segundo o Colombini, não é apenas importante para o atleta alcançar os seu objetivos, mas também para lidar com as frustrações de não atingir os resultados almejados nas competições, sobretudo quando entraram nas provas com a condição de favoritismo, o que sempre gera muita pressão. “Também quando os atletas não conquistam as tão sonhadas medalhas, a psicoterapia é fundamental para que eles consigam desenvolver habilidades de resiliência e de enfrentamento, para voltarem a treinar e disputar outras competições”, ressalta.

O fundador da Equipe AT ressalta a importância de olhar para a saúde mental dos atletas com a mesma ênfase normalmente dada à saúde física, de forma integral, pois não estão dissociadas. "A terapia é essencial para qualquer atividade que foca em desempenho. Investir na saúde mental é garantir que os atletas estejam preparados para enfrentar os desafios antes, durante e depois das competições", conclui Colombini.

“Para avançarmos no quadro de medalhas e classificação geral do Brasil, é preciso sim, um maior investimento na saúde mental dos nossos atletas”, conclui o especialista.                                                                                               

Psicólogo, fundador e CEO da Equipe AT, empresa com foco em Acompanhamento Terapêutico (AT) e atendimento fora do consultório, que atua em São Paulo (SP) desde 2012. Especialista em orientação parental e atendimento de crianças, jovens e adultos. Especialista em Clínica Analítico-Comportamental. Mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Professor do Curso de Acompanhamento Terapêutico do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas – Instituto de Psiquiatria Hospital das Clínicas (GREA-IPq-HCFMUSP). Professor e Coordenador acadêmico do Aprimoramento em AT da Equipe AT. Formação em Psicoterapia Baseada em Evidências, Acompanhamento Terapêutico, Terapia Infantil, Desenvolvimento Atípico e Abuso de Substâncias.