domingo, 16 de junho de 2024

CULTURA

Entre o prazer e a dor: uma ode à existência feminina

No livro "Todas as minhas mortes", Paula Klien apresenta uma narrativa visceral que retrata todas as vezes em que precisou renascer

Com honestidade, crueza e toques sutis de humor, a artista Paula Klien adentra as profundezas da existência feminina no livro Todas as minhas mortes. Neste romance de autoficção, publicado pela Citadel Grupo Editorial, a autora dissolve a fronteira entre realidade e fantasia, ao entrelaçar vivências reais com as nuances da própria imaginação. É sob a voz narrativa ambivalente da protagonista Laví (abreviação de la vie ― ou a vida em francês) que o leitor será conduzido a uma viagem pelas águas turvas da subjetividade humana.

Ousada, determinada e questionadora, a personagem subverte as convenções sociais. As vivências íntimas e visceralmente humanas da personagem provocam sentimentos e reflexões sobre temas relacionados à sexualidade, amadurecimento e maternidade. Entre o prazer e a dor, a protagonista expõe com honestidade suas forças e fraquezas para mostrar todas as vezes que precisou morrer para renascer – como uma fênix – até, finalmente, realizar o sonho de carregar um filho nos braços.

Eu esgotaria as forças pelo ser que me escolheu para
– tal qual o Big Bang – expandir do nada um universo inteiro em mim.
Eu me esvaziaria inteira para bem conduzir quem colocou limite nos saberes
do mundo e calou a ciência. Eu iria até o fim de todas as linhas com ele,
e simplesmente com ele: com o mais desejado dos filhos.

(Todas as minhas mortes, pgs. 142-143)

Capítulo a capítulo, Paula Klien narra uma fase na vida de Laví e a cada ciclo, uma montanha-russa de emoções, pensamentos e sensações toma conta do leitor, que facilmente se identifica com o personagem. Hora em êxtase, hora em agonia, a narradora evidencia que, assim como ela, ninguém é bom ou mau o tempo todo. Ela traz as múltiplas camadas e nuances da existência humana, do primeiro grito ao último suspiro.

Com uma escolha cuidadosa das palavras e evocando os espíritos de grandes pensadores como Nietzsche, Espinosa e Lacan, a escritora traz para a literatura, além de bagagem como artista multifacetada, elementos da psicanálise e da filosofia. Todas as minhas mortes é uma narrativa repleta de simbolismos, metáforas mas também subjetividade, pois assim como a vida, essa será uma leitura única para cada um.

Paula Klien nasceu no Rio de Janeiro em 1968. É artista plástica contemporânea com significativa projeção internacional. Embora utilize técnicas ancestrais na criação de seus desenhos e pinturas, ela foi pioneira em Cripto Arte e NFT (token não fungível). Artista multidisciplinar e diretora criativa de vanguarda, também trabalha com performance e vídeo, servindo-se de recursos de sua bagagem, como dança e música. Além disso, foi fotógrafa por dez anos, realizando trabalhos culturalmente relevantes. Muitas de suas obras visuais integram acervos de museus e importantes coleções. Embora tenha estudado Direito, Paula desistiu da carreira jurídica. A escrita é uma paixão antiga, e Todas as minhas mortes marca o lançamento da artista no universo literário.