Professor especialista explica as condições ideais higiênico-tecnológicas e sanitárias dos frigoríficos e qual a relação do ambiente com as infecções pelo coronavírus
A contaminação de carnes é uma preocupação constante para quem consome o alimento, porém as condições higiênicas e tecnológicas dos frigoríficos não são do conhecimento de todos. Por isso, o Professor Dr. Raimundo N. Rabelo, do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Franca – UNIFRAN, instituição que integra o grupo Cruzeiro do Sul Educacional, explica em detalhes quais são as regras e processos para um consumo seguro das proteínas animais.
Segundo o professor, a indústria de alimentos enfrenta, no contexto atual, um grande desafio de manter a qualidade de produtos, especialmente diante de uma pandemia que se estende por muitos meses, o que tem levado a diminuição das horas trabalhadas e até mesmo a suspensão das atividades pela infecção dos colaboradores (funcionários). Além desse problema, a contaminação de produtos dentro dos frigoríficos está intimamente ligada as condições de higiene adotadas pelos estabelecimentos, tanto aquelas rotineiras nas linhas de trabalho, quanto os hábitos higiênicos dos próprios colaboradores, por isso a necessidade constante de monitoramento e treinamento das equipes, associadas às medidas sanitárias previstas para prevenção ao coronavírus.
Uma preocupação que vem aumentando nos últimos meses de pandemia no mundo é justamente qual a possível relação da contaminação nos frigoríficos. Neste sentido, o professor esclarece que os casos de Covid-19, uma doença nova e ainda pouco conhecida, que foram relatados nas indústrias frigoríficas e que afetaram de alguma forma, a produção dos alimentos, não pode ser considerado como situação que expõe as industriais. Isto porque a doença em si guarda relação com transmissão humana, e que pode ser minimizada frente a adoção de medidas sanitárias preventivas e tratamento dos infectados, caso seja necessário.
“A China acusou o Brasil de enviar carne de frango contaminada com o coronavírus, mas até hoje a afirmação não foi comprovada. Desta forma, o governo brasileiro se respalda em seguir a posição científica da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que alimentos e embalagens de alimentos não são vetores ou transmissores da doença”, explica o professor doutor Rabelo.
Já em relação à ampla criação de carne para o consumo humano e a “contaminação” da cadeia, Raimundo Rabelo comenta que não se pode incriminar a produção intensiva de animais destinados a alimentação humana pela disseminação de patógenos nas indústrias de alimentos, uma vez que a cadeia produtiva é ampla e envolve seguimentos como a criação dos animais, transporte, produção segura e distribuição do produto acabado e em qualquer dos pontos pode ocorrer a contaminação do produto final. Mesmo assim, uma alternativa viável é a capacitação e treinamento de todos os envolvidos em boas práticas de manejo, bem-estar animal e de higiene.
“Os desafios da indústria alimentícia estão pautados nos Programas de Autocontrole - PAC, que surgiram devido à necessidade do sistema de inspeção nacional - SIF (UNIÃO), SIE (ESTADOS) e SIM (MUNICÍPIOS) – com a intenção de verificar as garantias de qualidade dos produtos fabricados ou produzidos. Temos que deixar bem claro, para o público, que a criação intensiva de qualquer espécie para fins de alimento para consumo humano, são as mais exigidas pela legislação brasileira e internacional em termos de sanidade, bem-estar animal, boas práticas de produção e segurança alimentar, o que é pouco cobrado em pequenas produções e para consumo familiar, em que a família produz para sua subsistência, por exemplo”, finaliza o professor Rabelo.