SUSTENTÁVEL
Ana Seroa
Durante a crise do petróleo, da década de 70, o conceito de sustentabilidade na arquitetura significava conseguir manter os padrões de conforto, apesar do alto custo das fontes de energia. Eficiência energética ditava os padrões adotados nos projetos arquitetônicos. A regra geral era obter mais conforto ambiental usando menos energia. O mundo vivia uma situação social e econômica bem diferente dos dias autuais. A população mundial, que na época era de 3,7 bilhões, cresceu bastante e, em 2020, convivem no planeta 7,8 bilhões de seres humanos. Na atualidade, uma mudança significativa para a sustentabilidade nos projetos arquitetônicos é que o mundo passa por uma crise, sem precedentes, causada pelo COVID-19. Decorridos cinquenta anos, as necessidades de consumo de energia elétrica, per capta, aumentaram expressivamente. Com os avanços tecnológicos, passamos a usar a eletricidade para praticamente todas as nossas funções diárias. E mais, com a chegada do “novo normal”, o qual impõe adaptações na forma de trabalhar, no lazer e na convivência social ampliamos ainda mais o consumo de energia. Cabe destacar que as fontes de energia que usamos, exceto a solar, são finitas e não são renováveis. Para ilustrar essa questão, pontuo uma situação que ocorreu nos hospitais da Venezuela. Em março de 2019, houve um apagão de energia durante cinco dias, que acompanhou a crescente crise política e econômica que o país enfrenta. Despreparados para a perda repentina de energia, geradores de reserva em alguns hospitais falharam, enquanto outros só tinham energia suficiente para manter funcionando algumas das enfermarias mais vitais. Ao final dos cinco dias, a organização Doctors for Health estimou que 26 pessoas morreram em decorrência da queda de energia. Eram pacientes com insuficiência renal que não conseguiram o tratamento vital de diálise, vítimas de balas perdidas que os cirurgiões não puderam operar na escuridão, etc. Logo, a eficiência energética no século XXI deixou de representar a manutenção de conforto ambiental para tornar-se um assunto que deve ser tratado com muito mais atenção nos projetos arquitetônicos. A resposta, mais uma vez, vem da ciência. Novos materiais de construção estão surgindo para possibilitar um uso mais racional da energia elétrica. Novo tipo de concreto, o qual permite a passagem de luz, foi desenvolvido pelo arquiteto húngaro Ron Losonczi. Trata-se de um composto químico com a resistência do betão, que incorpora fibras ópticas permitindo a passagem da luz. Sua transparência não é total, mas pode permitir que silhuetas possam ser identificadas do outro lado de paredes ou muros.
O concreto transparente é composto por milhares de fibras ópticas com um diâmetro que pode variar entre dois mícrons e dois milímetros, distribuídas em camadas ou em paralelo nos dois lados das superfícies de concreto. Ele também é conhecido como o concreto transmissor de luz. Essa transmissão diminui a necessidade de iluminação artificial nos interiores. O material tem a forma de blocos que podem ser utilizados na composição de paredes ou pilares.