segunda-feira, 13 de julho de 2020

CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS

Ana Seroa

Em nosso ultimo artigo mencionamos que a arquitetura sustentável tem dois pilares distintos. A primeira vertente emprega alta tecnologia para alcançar seus objetivos, enquanto a segunda vertente, de forma totalmente antagônica, rejeita as novas técnicas e utiliza somente elementos da natureza que se encontram no seu entorno. As duas linhas de pensamento estão corretas, pois é a sua finalidade que vai justificar a escolha e/ou as decisões arquitetônicas. Hoje, vamos falar um pouco da arquitetura sustentável natural. Nesta linha de pensamento encontram-se inúmeros exemplos de arquitetura vernacular. Por anos, muitas vezes devido à falta de diversidade de materiais construtivos, as construções foram se moldando ao entorno. Um delimitador importante sempre foi o clima local. Nos países de clima quente e muito seco, as florestas não se desenvolvem. As cidades são construídas em terrenos onde o material mais abundante é a areia e a terra seca e crua. Um exemplo de arquitetura natural que se desenvolveu nas regiões de clima quente e seco, a qual eu acho absolutamente fascinante é o superadobe.
Mas, o que é o superadobe?


Trata-se de uma técnica muito simples que consiste em encher grandes sacos com terra seca ou areia, e com eles construir muros, paredes, etc. A técnica data do século XIX. Os abrigos de superadobe são usados há décadas, principalmente como refúgio em tempos de guerra. Sabe-se que os soldados já usavam sacos cheios de areia para criar abrigos e barreiras de proteção mesmo antes da Primeira Guerra Mundial. No século passado, muitos edifícios de superadobe foram construídos e testados. Agora, principalmente por suas características ecológicas esses edifícios estão começando a ganhar reconhecimento mundial como uma solução sustentável para a construção civil. Cabe lembrar que foi Nader Khalili, um arquiteto americano de origem iraniana, quem popularizou a construção usando sacos de terra. O evento data de 1984. Ele ganhou um concurso da NASA onde o objetivo era projetar habitações para os futuros assentamentos humanos que ocorrerão na Lua e em Marte. Seu projeto consistia em usar a poeira da lua para encher os tubos de plástico (Superadobe) e fixá-los com arame farpado entre as várias camadas. Construções de Superadobe podem ser recobertas por uma camada impermeável, executada com terra e cal.


O recobrimento serve para manter o interior mais homogêneo, mais seco, alem de permitir pintura. A partir de então, o método Superadobe vem sendo utilizado no Canadá, México, Brasil, Belize, Costa Rica, Chile, Irã, Índia, Rússia, Mali e Tailândia, e também nos EUA. Embora as construções de superadobe geralmente tenham seu tamanho limitado em quatro (4) metros de diâmetro, estruturas maiores podem ser criadas se agruparmos várias células para formar uma coligação de cúpulas. O superadobe é considerado uma técnica sustentável por não impactar muito à natureza. Quando bem construídas, essas edificações podem durar muitas décadas.

Cabe destacar que a técnica não usa pedras, não usa água em grandes quantidades, não exige a queima prévia de materiais de construção, não consome quase nenhum combustível para chegar ao local da obra. E mais, possui um excelente desempenho térmico, pois suas paredes resistem bem à amplitude térmica de áreas quentes e secas, logo proporcionando conforto térmico sem a necessidade de gastos com energia. Tudo isso sem falar que existem relatos de que resistem bem a terremotos. Outra grande vantagem do superadobe é que qualquer pessoa que tenha um pouco de conhecimento em arquitetura e/ou engenharia civil pode erguer uma edificação usando a técnica. Por essas razões também permite uma redução nos custos e no tempo de construção. Se a construção tiver que ser demolida, quase cem por cento do seu entulho pode ser reciclado para uma nova edificação, o que se constitui em uma excelente contribuição para o meio ambiente.