domingo, 31 de maio de 2020

Lixões a céu aberto são tão graves quanto uma pandemia

Em meio ao caos por conta do novo coronavírus, é preciso trazer à tona as consequências da não implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Prestes a completar 10 anos, a lei que estabelece a erradicação dos chamados lixões a céu aberto, está longe de sair do papel. Enquanto isso, acumulam-se na mesma proporção das montanhas de lixos os danos ambientais e os graves problemas à saúde dos brasileiros
Ninguém, no mundo, imaginaria começar 2020 ‘de cara’ com um inimigo invisível, o novo coronavírus. ​ São tempos muito difíceis e, mesmo diante do caos para além da tragédia humana, muitos ainda não acreditam que o planeta vive e sofre as consequências drásticas de uma pandemia. São muitas perguntas, incertezas e quase nada de respostas concretas quanto à cura da Covid-19 ou como e onde tudo começou. No entanto, para muitos especialistas a degradação do meio ambiente está na origem da pandemia, e, por isso entenda-se entre outros aspectos relevantes o crescimento urbano desordenado, a industrialização sem limites, a destruição de florestas e habitats naturais e a falta de maiores investimentos em vigilância sanitária.
Trazendo todas essas questões para a nossa realidade, em especial para a gestão dos resíduos sólidos, a pandemia reacende a polêmica sobre a não implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em todo o Brasil. Prestes a completar 10 anos, a lei determina o fechamento de todos os lixões e a destinação de rejeitos - aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado -, quase nada se avançou quando ao assunto é a erradicação dos lixões em todo o país – apesar de 60% das cidades brasileiras ainda manter os chamados lições a céu aberto -​ 3353 municípios -, causando graves danos ambientais e à saúde da população.
Neste contexto e sob o ponto de vista da saúde pública, além do aparecimento de várias doenças como dengue, febre amarela, zika e chikungunya, parasitoses e tantas outras, aliadas à estrutura deficitária e escassez de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), somam-se os elevados custos sociais e econômicos nos gastos públicos do município, Estado e União.
Outro dado extremamente preocupante: as chamadas zoonoses – doenças infecciosas capazes de ser naturalmente transmitidas entre animais e seres humanos – representam 60% de todas as doenças infeciosas em humanos e estão em ascensão devido à destruição dos habitats selvagens decorrente das mais diversas atividades econômicas. Ou seja; em grande escala, essas doenças, além dos impactos negativos na vida em comunidade afetam, de maneira extremada, o tripé da sustentabilidade – a economia, a sociedade e o meio ambiente. O pior exemplo desse desiquilíbrio, hoje, é o novo coronavírus.
Para Yuri Santos. diretor de operações da Direção Máquinas e Equipamentos - Demaq, a despeito das propostas para a destinação e tratamento ambientalmente corretos ao lixo, em todas as suas classificações, a primeira passa por investimentos massivos, de forma planejada e responsável, em alternativas sustentáveis e com ganhos substanciais para a saúde, a economia e o meio ambiente com todas as complexidades que lhe são afetas. “As soluções estão postas, cabe aos gestores públicos se vestirem da mesma vontade política e disposição, assim como vêm fazendo para enfrentar a Covid-19, para acabar de vez com uma de nossas maiores chagas, os aterros e lixões, para onde são destinados mais de 80 mil toneladas de resíduos por dia e com elevado potencial de poluição ambiental e consequências graves à saúde da população, em particular de milhões de brasileiros que têm, nas montanhas de lixo e com tudo o que há de mais degradante para a própria dignidade humana, o sustento de suas famílias”, enfatiza.
Tecnologia e sustentabilidade
Ao falar de solução, Yuri Santos considera uma tecnologia japonesa como sendo a melhor aposta para o tratamento de resíduos sólidos urbanos, industriais, de agronegócio e hospitalar, a qual reduz em até 95% o volume dos resíduos e está totalmente dentro das normas ambientais. Chamada de “DTRO5”, trata-se de um equipamento de grande porte (5 toneladas) para decomposição de resíduos por meio de plasma frio, que pode integrar uma Usina de Tratamento de Resíduos Urbanos. Funciona com a presença de oxigênio ionizado e decompõe a temperaturas inferiores a incineradores convencionais, gerando o mínimo de poluentes e dispensando totalmente a utilização de aterros sanitários, já proibidos desde 2010.​ Com capacidade para tratar 210 kg de lixo por hora, somente uma atende às necessidades de um município de até 20 mil habitantes, por exemplo. Vale destacar a triagem de todo o resíduo feita antes de dar entrada no maquinário, o que torna indispensável a colaboração de Associações de Catadores de Papel.
Ainda segundo o CEO da empresa, que importou a tecnologia, esta é uma solução amplamente utilizada no Japão, país 22,5 vezes menor que o Brasil e que precisou desenvolver tecnologias avançadas de reciclagem e tratamento de resíduos. “O equipamento não utiliza combustíveis ou fonte de energia externa para o processo de tratamento do lixo, conta com tecnologia totalmente testada e aprovada pelos órgãos ambientais e não necessita de mão de obra especializada para operação, além de contar com linhas de financiamento do BNDES”, esclarece Yuri.
Vantagens
Entre os diferenciais técnicos da máquina está a redução do volume de resíduo em 95%, além de não utilizar combustíveis ou fontes de energia externa para o processo de tratamento. Ou seja: o lixo é o próprio combustível e 100% da matéria resultante é aproveitável e pode ser usado como adubos, insumos para cimenteiras, fabricação de bloquetes, entre outros. Vidros e metais são reaproveitados e vendidos como material reciclado. A utilização da máquina possibilita ainda o tratamento do Passivo Ambiental de Resíduo Urbano, localizado em aterros irregulares ou desativados.