quarta-feira, 17 de julho de 2019

OPINIÃO


O futuro espacial passa pelos nanossatélites 
 Mario Eugenio Saturno 
 
Quando os primeiros nanossatélites foram lançados, eles foram vistos como brinquedos espaciais, sem alguma utilidade. São muito pequenos, cubos de dez centímetros de aresta e um quilograma de massa. O mesmo desdém aconteceu com os pesquisadores do INPE Otávio Durão e Nelson Schuch que apostaram na ideia, arriscaram e empenharam-se para o sucesso da missão. Eles mostraram-se visionários...

O primeiro cubesat nacional, denominado NanosatC-BR1, foi desenvolvido pelo INPE e pela Universidade de Santa Maria (UFSM), através de uma parceria que permitiu aos estudantes terem a supervisão de especialistas do INPE e atuassem diretamente em todas as fases, iniciando com a especificação e passando pelo desenvolvimento, montagem, integração e testes, o lançamento do satélite na órbita e a operação e recepção de dados. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) também participou do projeto através de da estação terrena que possui em São José dos Campos (SP).

O NanosatC-BR1 foi lançado às 16h11 (horário de Brasília) de 19 de junho de 2014,  da base de Yasny, na Rússia, pelo foguete russo Dnepr, junto com outros 30 artefatos de vários países.

Pouco depois, os primeiros sinais foram recebidos pela equipe da estação terrena de Santa Maria, onde também está localizado o Centro Regional Sul (CRS) do INPE. Radioamadores de diversos países colaboraram com o projeto confirmando a recepção de sinais do nanossatélite.

Alguém pode pensar que esse satélite não teve um objetivo prático além da capacitação de recursos humanos para a área espacial, o que, realmente, foi um dos objetivos, mas esse cubesat também teve uma missão científica que é o estudo de distúrbios na magnetosfera, principalmente na região da Anomalia Magnética do Atlântico Sul - a famosa SAMA, na sigla em inglês-, e do setor brasileiro do Eletrojato Equatorial Ionosférico.

E não para aí, tem experimento tecnológico também, o NanosatC-BR1 testa circuitos integrados resistentes à radiação projetados no Brasil, para utilização em futuras missões de satélites nacionais de maior porte.

O cubesat possui três cargas úteis: um magnetômetro para utilização dos seus dados pela comunidade científica; um circuito integrado projetado pela Santa Maria Design House da UFSM; e o hardware FPGA, que deve suportar as radiações no espaço em função de um software desenvolvido pelo Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Em junho passado, o NanosatC-Br1 completou cinco anos em órbita e ainda funcionando, muito além de qualquer expectativa otimista. O sucesso do NanosatC-Br1 impulsionou outras missões brasileiras usando nanossatélites, como o SPORT, uma parceria com a agência espacial norte-americana (NASA), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e várias universidades dos Estados Unidos.

O nanossatélite SPORT (Scintilation Prediction Observations Research Task) tem apenas 6 kg e a missão de estudar os fenômenos ionosféricos que podem afetar a transmissão de ondas de rádio e a precisão do sinal de GPS. As portas estão abertas para muitas missões.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.