O futuro
espacial passa pelos nanossatélites
Mario Eugenio
Saturno
Quando os
primeiros nanossatélites foram lançados, eles foram vistos como brinquedos
espaciais, sem alguma utilidade. São muito pequenos, cubos de dez centímetros
de aresta e um quilograma de massa. O mesmo desdém aconteceu com os
pesquisadores do INPE Otávio Durão e Nelson Schuch que apostaram na ideia,
arriscaram e empenharam-se para o sucesso da missão. Eles mostraram-se
visionários...
O primeiro
cubesat nacional, denominado NanosatC-BR1, foi desenvolvido pelo INPE e pela
Universidade de Santa Maria (UFSM), através de uma parceria que permitiu aos
estudantes terem a supervisão de especialistas do INPE e atuassem diretamente
em todas as fases, iniciando com a especificação e passando pelo
desenvolvimento, montagem, integração e testes, o lançamento do satélite na
órbita e a operação e recepção de dados. O Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA) também participou do projeto através de da estação terrena que possui em
São José dos Campos (SP).
O NanosatC-BR1
foi lançado às 16h11 (horário de Brasília) de 19 de junho de 2014, da
base de Yasny, na Rússia, pelo foguete russo Dnepr, junto com outros 30
artefatos de vários países.
Pouco depois,
os primeiros sinais foram recebidos pela equipe da estação terrena de Santa
Maria, onde também está localizado o Centro Regional Sul (CRS) do INPE.
Radioamadores de diversos países colaboraram com o projeto confirmando a
recepção de sinais do nanossatélite.
Alguém pode
pensar que esse satélite não teve um objetivo prático além da capacitação de
recursos humanos para a área espacial, o que, realmente, foi um dos objetivos,
mas esse cubesat também teve uma missão científica que é o estudo de distúrbios
na magnetosfera, principalmente na região da Anomalia Magnética do Atlântico
Sul - a famosa SAMA, na sigla em inglês-, e do setor brasileiro do Eletrojato
Equatorial Ionosférico.
E não para aí,
tem experimento tecnológico também, o NanosatC-BR1 testa circuitos integrados
resistentes à radiação projetados no Brasil, para utilização em futuras missões
de satélites nacionais de maior porte.
O cubesat
possui três cargas úteis: um magnetômetro para utilização dos seus dados pela
comunidade científica; um circuito integrado projetado pela Santa Maria Design
House da UFSM; e o hardware FPGA, que deve suportar as radiações no espaço em
função de um software desenvolvido pelo Instituto de Informática da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Em junho
passado, o NanosatC-Br1 completou cinco anos em órbita e ainda funcionando,
muito além de qualquer expectativa otimista. O sucesso do NanosatC-Br1
impulsionou outras missões brasileiras usando nanossatélites, como o SPORT, uma
parceria com a agência espacial norte-americana (NASA), o Instituto Tecnológico
de Aeronáutica (ITA) e várias universidades dos Estados Unidos.
O nanossatélite
SPORT (Scintilation Prediction Observations Research Task) tem apenas 6 kg e a
missão de estudar os fenômenos ionosféricos que podem afetar a transmissão de
ondas de rádio e a precisão do sinal de GPS. As portas estão abertas para
muitas missões.
Mario Eugenio
Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) e congregado mariano.