CENTRAL
ÚNICA DOS DESEMPREGADOS
Percival Puggina
Há uma
parcela da sociedade brasileira que, tendo emprego, joga politicamente contra
quem está desempregado. Na verdade, são militantes da recessão, do
endividamento, do calote. Imediatistas, creem que os problemas podem ser
permanentemente empurrados com a barriga, como se o ventre tivesse o dom de
deslocar, também, o precipício.
Você
jamais os ouviu criticar privilégios. Articulam-se num círculo de proteções
recíprocas. Juntam-se nas galerias dos parlamentos e rejeitam quaisquer medidas
que visem a corrigir as imensas distorções e injustiças que afetam a vida
nacional. Têm fé religiosa no Estado, que veem como o colo protetor, malgrado
todas as demonstrações de que ele só cuida bem de si e dos seus.
A
pressão política desses conglomerados de interesses públicos e privados que se
nutrem no mamoeiro estatal, são, em uníssono, contra as privatizações, contra a
reforma da Previdência, contra qualquer medida que vise a reduzir o peso do
Estado e sua influência no sistema de ensino do país. Afinal, é ali que opera o
torno onde se esculpem os conceitos e se conquistam corações e mentes.
Muitos
aspectos de nossa realidade seriam diferentes se existisse no Brasil uma
Central Única dos Desempregados (CUD). Uma entidade que reunisse os brasileiros
em busca de ocupação – 13 milhões contados pelo IBGE –, dispondo de força de
mobilização, certamente estaria apoiando ideias liberais para a economia. Eles
sabem que seus empregos lhes foram tomados pela corrupção, pelo populismo, pela
velha política, pela irresponsabilidade fiscal, pelos privilégios e pela alta
carga tributária, pela ganância do Estado e de quantos à sua sombra vivem.
Sabem os desempregados que, agora, esses mesmos interesses se mobilizam contra
a reforma da Previdência, sem a qual nenhum investidor haverá de confiar no
Brasil para aqui empreender.
Uma
Central Única dos Desempregados os informaria que sete de cada dez indústrias que se instalam no Paraguai pertencem a investidores
brasileiros, que vão em busca de menores custos trabalhistas, energia mais
barata e tributos menos onerosos. Uma CUD teria assessoria interessada em
aconselhar seus filiados a pressionar os poderes de Estado por medidas
liberalizantes, capazes de atrair investidores. Faria com que esses
infelicitados irmãos nossos fossem às ruas protestar contra as instabilidades
políticas e a insegurança jurídica. Os orientaria a clamar por infraestrutura
adequada à produção e a seu escoamento, por Educação que qualifique melhor
nossos jovens. Os mobilizaria para apoiar medidas capazes de melhorar a credibilidade
do país, revitalizar nossa Economia e ressuscitar, assim, o mercado de
trabalho.
A má
notícia para os desempregados é que há muita gente influente mobilizada contra
as medidas que os beneficiariam, simplesmente porque, assim, mantêm suas
posições e vislumbram um possível retorno ao poder.
* Percival Puggina (74), membro
da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.