Onde fica o limite do zelo?
O apresentador Carlos Alberto de Nóbrega, que participou do
programa "Todo Seu" nesta segunda-feira, 1, falou sobre a saúde do
filho Marcelo Nóbrega, que sofreu oito paradas cardíacas no início de março em
consequência do tabagismo. Na conversa com Ronnie Von, ele afirmou que ainda
não deixou o filho voltar a trabalhar no programa "A Praça É Nossa",
do SBT, e até o ameaçou de ficar sem emprego caso volte ao vício.
Este acontecido demonstra, mais uma vez, a necessidade do
entendimento do uso de substâncias (lícitas ou ilícitas) como uma doença e não
como um comportamento desviado ou desviante. Todas atuam no sistema nervoso
central produzindo alterações de comportamento, humor e cognição, possuindo
grande propriedade reforçadora, promovendo prejuízos e perigos à saúde que
devem ser sempre considerados.
- É interessante ver um pai se posicionar desta forma. Na
maioria das vezes vejo que os familiares têm muita dificuldade e inabilidade de
serem assertivos acerca do uso disfuncional de substâncias, seja tabaco, álcool
ou drogas ilícitas. Em muitos casos, o uso causa tanta preocupação e mal estar
que acaba gerando emoções tóxicas, um adoecimento emocional que dentro do trato
das dependências e das disfunções familiares dá-se o nome de Codependência -
alerta a psicóloga Ana Café, idealizadora do Núcleo Integrado e especializada
na prevenção e tratamento da Dependência Química.
Este termo tem origem no adoecimento dos familiares de
usuários de substâncias, mas o codependente é uma pessoa que se permite viver
relações disfuncionais e acaba adoecendo na tentativa de controlar o outro (e
neste contexto família se caracteriza por laços de afeto e não apenas de
sangue). São pessoas que acabam se desfocando das suas metas e dos seus
objetivos no sentido de cuidar de alguém, de tentar controlar, de não entender
a premissa de que cada um é responsável pelas consequências de suas
escolhas, como diz a expressão popular “Cada macaco no seu galho”. Ou
seja, podemos incentivar e oferecer suporte a pessoas queridas, mas nunca viver
e escolher por elas.
- Um limite é saudável quando estimula a reflexão e não é
movido pela raiva, quando a pessoa consegue dá-lo com a consciência de que está
fazendo o melhor para quem ama, desejando preservá-lo e não com a tentativa de
controle, do "agora ele vai parar, agora eu vou fazê-lo mudar" - diz
Ana.
É importante que o codependente se conscientize e faça algum
tipo de acompanhamento psicológico (seja terapia em grupo, terapia familiar ou
terapia individual) pois trata-se de uma situação que envolve grande sofrimento
e muito difícil de ser resolvida sem ajuda, já que faz parte do cenário cuidar
do outro e não de si mesmo. Procurar compreender como o cérebro se comporta
diante dos estímulos de prazer e aprender como lidamos com isso nos oferece a
capacidade de ter atitudes mais inteligentes, funcionais e humanas para lidar
com uma questão que se apresenta há diversas gerações, completamente inserida
no sentido da existência pessoal e social.
- Entender o comportamento diante do tabaco, álcool e outras
drogas como proveniente de um distúrbio da vontade é desafiador. A família faz
parte desse caldeirão junto com o usuário. Ele se sente "todo errado"
e culpado em paralelo à família que se questiona: "O que posso fazer pra
acabar com isso tudo?" - explica Gisele Aleluia, especialista em terapia
familiar sistêmica.
Na próxima segunda-feira, dia 8, o Núcleo Integrado do
Recreio dos Bandeirantes iniciará um grupo familiar aberto a qualquer pessoa
que esteja interessada em participar. Não será cobrada taxa de participação e
seu sustento se dará de forma livre e colaborativa: materializará a gratidão
por estar participando quem puder e quiser. Mais informações: 3553-6442.