Aluno pobre
Mario Eugenio Saturno
Já é senso comum que a participação dos pais na educação
das crianças é fundamental. Mas o que fazer com as crianças que não tem pais
participativos ou mesmo com uma educação básica suficiente? Abandoná-las? É o
que parece pensar muitos professores, a considerar suas redes sociais.
Muitas crianças, na prática não tem apoio dos pais,
afetivo ou material. Esse é o desafio para a Escola. -Muitos dos meus
professores diziam que ser professor não era exercer uma profissão, mas um
sacerdócio. Eles sabiam das coisas!- Então, o desafio é convencer os
professores atuais que eles podem fazer a diferença para os alunos
“abandonados” pelos pais e que, em geral, são pobres.
Os professores reclamam da realidade da Escola atualmente
e atribuem aos pais –não aos professores- o sucesso dos alunos. Essa escusa é
vergonhosa, devo dizer que já fui catequista de pré-adolescentes, em que os
jovens são mantidos por convencimento e não por obrigação, e eu usei de todos
os livros que consegui para terminar uma turma grande de Crisma. Fui bem
sucedido! Também fui professor em um curso profissionalizante do segundo grau e
vi como os alunos desprezam os professores e vi também que eu podia fazer a
diferença e fiz para alguns, sem demonstrar esse preconceito horroroso que
muitos professores demonstram com os pobres.
A verdade é que esses professores que pensam que os mais
pobres não tem solução não deveriam ser professores. E, em minha opinião, são
eles os responsáveis pelo fracasso dos alunos e não os pais irresponsáveis.
Falta-lhes vocação! Infelizmente, vocação não se afere em concurso...
Os mais pobres podem ser tão bem sucedidos quanto os mais
ricos, basta olhar o Enem 2017 (Exame Nacional do Ensino Médio). Segundo um
estudo feito pelo cientista da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Sales,
dos 4,6 milhões de alunos que fizeram o teste, 176,9 mil eram muito pobres e
destes, 293 tiveram pontuação alta e estavam entre as 183 mil (5%) melhores
notas.
Dos 293 candidatos pobres com excelente resultado, mais
da metade (154) estudou em escolas públicas do Ceará. Certamente, é um caso a
ser estudado, assim como muitas outras experiências de sucesso. E a minha
pergunta: algum prefeito ou secretário de Educação procurou descobrir a
resposta para aplicar em seu município? Esse é também um problema grave, a incompetência
das autoridades públicas.
Este tema será aprofundado em futuro próximo, pois não se
pode ignorar um fato marcante: a professora Débora Garofalo foi escolhida e já
está entre os 10 melhores professores do mundo e vai concorrer ao Global
Teacher Prize, que é considerado o Nobel da Educação e paga um prêmio de US$ 1
milhão. O vencedor será anunciado em 24 de março, em Dubai, nos Emirados
Árabes, durante o Global Education and Skills Forum (GESF).
Ela é um exemplo do que um professor pode e deve fazer. E
ela fez em uma área carente de São Paulo, cercada por quatro favelas conhecidas
pela violência. Garofalo, apesar de ser formada em Letras, criou o projeto
"Robótica com sucata promovendo a sustentabilidade", fabricando robôs
e que já removeu mais de uma tonelada de lixo das ruas.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é
Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e
congregado mariano.