Os idosos e o calor
Mario Eugenio Saturno
Pesquisadores da USP realizaram um experimento para
avaliar os efeitos do clima na saúde humana, em especial, das pessoas mais
velhas. É uma pesquisa de grande interesse para a saúde pública, pois a
população idosa aumenta e também estamos vivendo dias cada vez mais quentes e
nenhum estudo foi feito sobre o impacto das mudanças climáticas. O estudo
compõe a tese feita pela médica Beatriz Trezza.
O aquecimento global está acontecendo, independente de
ser por causas humanas ou naturais. Em São Paulo, por exemplo, o Instituto de
Agronomia e Geofísica fez uma análise da evolução da temperatura média anual e
mostra que as temperaturas médias, máximas e mínimas tendem aumentaram ao longo
dos últimos 80 anos. A temperatura média anual na cidade de São Paulo aumentou
por volta de 2,1ºC desde 1933. E a temperatura média máxima e mínima também
aumentaram 1,6ºC e 2,2ºC, respectivamente. E, mais, o número de dias com
temperatura igual ou acima de 30ºC em 2013 foi de 64. Valor bem acima da média
que é de 47 dias por ano.
Inúmeros estudos já demonstraram aumento da mortalidade
durante ondas de calor e que o fator de maior impacto é a idade avançada. Há
indícios de que as mortes ocorrem principalmente entre indivíduos com doenças
cardiovasculares e pulmonares. (Basu e Samet, 2002; Astrom, Forsberg e Rocklov,
2011). O aumento de mortalidade não ocorre somente nos dias de calor extremo,
Yu et al. (2012) analisaram 15 estudos e calcularam que a mortalidade dos
idosos aumentava 2.7% e 5% para cada 1ºC de incremento na temperatura média nos
períodos em que a temperatura estava entre 25 a 28ºC e acima de 28ºC
respectivamente.
No experimento da Dra. Trezza, 68 idosos, de diferentes
condições físicas, sexos e classes sociais, foram alocados dentro de uma câmara
climática, que permitia a regulação de condições ambientais, como temperatura e
umidade do ar. Para que os voluntários se sentissem à vontade, a câmara simulou
uma sala de estar, com poltronas. Os idosos foram divididos em grupos, que se
submeteram a diferentes condições climáticas. As temperaturas, por exemplo,
variaram entre 16ºC e 32ºC, enquanto a umidade do ar oscilou entre 30% e 70%.
Após as sessões de adaptação do corpo à combinação de
fatores ambientais, os grupos tiveram avaliadas suas capacidades física e
mental, através de testes cognitivos, de equilíbrio ou de força, e foram
questionados sobre possíveis desconfortos.
A pesquisa mostrou que os idosos tiveram problemas quando
submetidos à combinação de altas temperaturas e umidade, exceto para os
praticantes regulares de atividades físicas. E mostrou ainda que o sistema
termorregulador do nosso corpo torna-se menos eficaz com o tempo, um grave
problema de saúde pública, já que o calor causa desidratação e hipertensão,
entre outros.
O calor também é a causa de outras doenças, como dengue,
chikungunya e zika, cujo mosquito se desenvolve apenas em condições tropicais.
E, países tropicais como o Brasil, são menos desenvolvidos, com difíceis
condições econômicas, logísticas e tecnológicas. Que as autoridades acordem
para o problema.
Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é
Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e
congregado mariano.