Clínicas denunciam situação e ameaçam encerrar
atividades pela falta de recursos. Cenário é agravado pela batalha para
equiparar custo do tratamento
O
descaso é nacional, mas em municípios do estado do Rio de Janeiro a situação é
ainda mais crítica. As clínicas de diálise que prestam serviço ao SUS
oferecendo tratamento
de terapia renal substitutiva para
filtrar artificialmente o sangue vêm enfrentando grande dificuldade devido à
falta de repasse do valor das sessões de hemodiálise – questão que ameaça o
tratamento de milhares de pacientes renais. Segundo clínicas de São Gonçalo e
Belford Roxo, graças à movimentação da imprensa nas últimas semanas, as competências
de agosto e setembro foram pagas no final de novembro. Porém, este dinheiro
ainda não é o suficiente, uma vez que as dívidas dos meses de outubro e
novembro ainda não foram sanadas.
Além disso, o atraso dos repasses
se repete anualmente, principalmente quando o final do ano se aproxima. As
competências de outubro e novembro de 2016 de ambos os municípios, por exemplo,
nunca foram pagas e acumulam com supostos repasses “atuais”. “Já tentamos de
todas as formas cobrar esse valor atrasado, mas a prefeitura ignora a situação
e acreditamos que trata-se de um caso a ser resolvido na justiça”, detalha
Sérgio Sloboda, diretor regional da ABCDT e responsável pela clínica Renalford,
em Belford Roxo.
Sérgio
explica que a situação se arrasta sem qualquer justificativa por parte da
prefeitura: “É muito difícil, pois ficamos na mão e não temos para a quem
correr. Nós, clínicas que prestam serviços ao SUS, nos comprometemos com a vida
de inúmeros pacientes e não queremos deixá-los na mão. Porém, sem os repasses
em dia, acumulamos dívidas e empréstimos para tentar suprir a ausência de
suporte financeiro que nos é prometido por lei.”
Outra questão que deve ser levada
em consideração é o fato de o valor pago pelo Ministério da Saúde estar abaixo
do custo real e não acompanhar a cotação do mercado. Grande parte dos insumos,
como produtos e maquinários são importados, além de gastos com dissídios
trabalhistas, folha de pagamento, água, energia e impostos. Com todas essas
despesas, a grave diferença de valor e a falta de repasse, muitas clínicas
ameaçam encerrar suas atividades pela falta de recursos para compra de insumos
para o atendimento aos pacientes.
Yussif Ali Mere Júnior,
presidente da Associação Brasileira
dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), alerta que a principal
preocupação está ligada à menor oferta de tratamento à população: “A realidade que estamos vivendo na
diálise é absolutamente incompatível com o sucesso do tratamento”.