TEMPO DE “LACRAR”
A ERA DA IRRESPONSABILIDADE
Percival Puggina
Nesta
eleição, contra quase tudo e quase todos, o povo brasileiro, promoveu uma
grande faxina eleitoral. Se lamentamos a preservação de certos mandatos,
simbolizados pelos de Renan Calheiros, Jader Barbalho e Ciro Nogueira, é
forçoso reconhecer que sempre haverá eleitores com tais imagens e semelhanças.
Por outro lado, três em cada quatro colegas da trinca sinistra foram devolvidos
à planície. E muitos à justiça dos homens.
Diversos
indicativos deste pleito sugerem haver chegado ao fim a era da
irresponsabilidade. Até o indulgente e leniente STF será atingido com mudanças
no seu perfil. Nos próximos quatro anos, duas ou três substituições por
aposentadoria conduzirão a alterações no perfil do colegiado. Isso poderá
levar, entre outras consequências, à maior valorização da colegialidade e à
coibição do uso abusivo de prerrogativas individuais por seus membros.
A era da
irresponsabilidade quebrou o país. Impulsionado pela influência positiva de um
ciclo de crescimento da economia mundial, o petismo fez explodir a despesa
pública. Já no fim do ciclo, para preservar a bolha da aparente prosperidade
geral, o próprio gasto das famílias passou a ser estimulado. Consequências:
recessão, êxodo de investimentos, 14 milhões de desempregados, dívida da União
próxima do PIB anual e, em julho deste ano, 63,4 milhões de brasileiros com
contas atrasadas! São produtos da falta de juízo que casou o keynesianismo de
alguns economistas de esquerda com o insaciável populismo eleitoreiro do
petismo.
Simultaneamente,
o aparelho estatal brasileiro, que já era tamanho XL, passou para a categoria
XXL. Povoadas por companheiros, criaram-se 41 novas estatais. Na década petista
anterior a 2015, o funcionalismo federal cresceu 28%. Contrataram-se centenas
de obras que permanecem paralisadas. A irresponsável Copa de 2014, de tão má
memória, desencadeou uma gastança altamente comissionada por todo o país (entre
elas as famosas “obras da Copa”). A insanidade atingiu seu ápice com a simultânea
realização dos Jogos Olímpicos que deixam reminiscências na crise do Rio de
Janeiro e nas já ruinosas instalações esportivas.
A era da
irresponsabilidade é um mostruário de lições penosas que – espera-se – tenham
cumprido função pedagógica. O Estado brasileiro assumiu um peso insustentável.
Também para ele falta dinheiro porque todo item de despesa criado pelo poder
público adquire uma espécie de dimensão imanente da eternidade. Subsistirá até
a ressurreição dos mortos. Daí a
contenção de gastos. Daí, também, os crescentes bolsões de miséria salarial e
material em serviços voltados ao atendimento da população nas áreas de
segurança, saúde e educação. Simultaneamente, bem à moda da casa, preservam-se
no aparelho de Estado núcleos de opulência que, por pura “coincidência”,
correspondem aos centros de poder e decisão. Claro.
A mesma
sociedade que, nos limites do possível, promoveu sua lava jato eleitoral
precisa, agora, cobrar dos futuros detentores de poder todas as providências
necessárias para “lacrar” em definitivo a era da irresponsabilidade.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.