De Olho Na Cidade
"Temo que meu livro queime junto à Biblioteca
Nacional" Sobre o livro do escritor na Biblioteca Nacional que também foi
alvo de apontamentos de descaso
Nós da MFPG lamentamos essa tragédia cultural no Brasil - Vanessa
Scarcella
Filósofo e pesquisador,
Fabiano de Abreu trabalha com historiadores para suas teses filosóficas.
Muito
afetado pela tragédia, o também jornalista desabafa já que além de conhecer
pessoas que trabalhavam no museu, era frequentador e já reclamava do descuido a
mais de 10 anos.
"Não podemos falar em
filosofia sem compreender a história, tenho diversos amigos historiadores,
inclusive ligado ao Museu Nacional eu e meus amigos estamos arrasados, mal
consigo trabalhar. Frequentei o local diversas vezes, sempre comentei do estado
do museu e os responsáveis pelo local diziam que o governo dava de ombros às
suas solicitações. Eu como filho de portugueses e filósofo, perco por terem
matado a história, perco por terem matado um pedaço de Portugal."
O também escritor, lamenta
não poder cumprir a promessa de levar a filha ao Museu Nacional.
"Frequentei algumas
vezes o Museu Nacional, dizia a um professor amigo meu que quando minha filha
tivesse idade para entender aquilo tudo, eu a levaria. E agora, como poderei
levá-la e explicar o que já não existe."
O filósofo relembra que essa
não foi a primeira tragédia com monumentos históricos no país e que o descuido
é histórico.
"O
descuido com nossa cultura é histórico. Em 1978 queimou-se o Museu da Arte
Moderna, destruindo diversas obras importantes. Teve o Auditório do Memorial da América Latina em
2013, Teatro Cultura Artística em 1950, Liceu de Artes e Ofícios de
São Paulo em 2014, Museu do Ipiranga em 1895 e o Instituto Butantan
em 2010"
Autor
do livro "Viver Pode Não Ser Tão Ruim", Fabiano teme que seu livro
também se perca em uma tragédia devido ao descuido. O livro encontra-se na
Biblioteca Nacional.
"O
maior feito em minha vida, mesmo lançando meu livro em outros países, inclusive
na Universidade de Coimbra e em São Lázaro em Portugal, foi ter eternizado meu
livro na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Após ouvir da responsável da
instituição que meu livro seria eternizado junto à grandes nomes. Essas
palavras entraram como um orgulho especial em minha mente. E agora, devo temer
o descuido também nessa instituição?"
Fabiano culpa o governo pela
tragédia
"O que aconteceu com o
Museu Nacional, reflete todo o problema político que o Brasil enfrenta. Desde a
era Lula, Dilma e agora Temer, é cobrado do governo Federal um cuidado especial
ao Museu e aos prédios históricos. Assassinaram a cultura com esse incêndio e
assassinato é crime. Os responsáveis são os últimos governantes do país que não
zelam pelo patrimônio. Todos comentam nas ruas, o descuido causou uma tragédia
irreparável. Não há dinheiro que recupere o irrecuperável. O Brasil é um país
que arrecada bilhões e o dinheiro é usado de forma desorganizada e parte
desviada. Por isso todos os problemas que estão a acontecer.
Estou em contato com
professores, alunos, que estão arrasados, muitos choram, como a morte de um
ente querido, pois muitos tinham o Museu, um motivo de vida. Rancaram a vida de
diversas pessoas e mataram nossa história."
História
O
Museu Nacional é a instituição científica mais antiga do Brasil. É um dos
museus de ciência de referência no mundo. Foi fundado em 1818.
Inicialmente
instalado no Campo de Santana, o Museu foi posteriormente transferido para o
Palácio de São Cristóvão,
monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e situado na Quinta da Boa Vista, um dos
mais importantes parques urbanos do Rio. Antes de abrigar o Museu Nacional, o
Palácio de São Cristóvão foi residência das famílias real portuguesa e imperial
brasileira.