Percival Puggina
“(...) quando então começaram a se precipitar para esses tempos em
que nem nossos vícios, nem os remédios para eles, podemos suportar.” Tito Lívio, em Ab
urbe condita.
Em artigo publicado no meu blog em 30
de setembro de 2014, e que pode ser lido aqui, o prof. Giusti Tavares discorreu sobre o
paradoxo representado pelos partidos totalitários que atuam em democracias
constitucionais. Advertiu o eminente professor que o surgimento e a atuação de
tais legendas se fazem tanto mais vigorosos quanto mais erodidas e fragilizadas
forem essas democracias pela decadência de suas elites, pela corrupção e pela
desinformação política.
Quando analisamos a conduta do Partido
dos Trabalhadores na política brasileira, constata-se facilmente que, desde
suas origens, a legenda surge com esse perfil, valendo-se e interagindo com
essa erosão e com essa fragilidade. Muitos de seus dirigentes vieram das
organizações guerrilheiras e terroristas que atuaram no Brasil nos anos 60 e 70
do século passado e, pela porta da anistia, a partir de 1980, foram absorvidos
no jogo político. As organizações que criaram e nas quais militaram mantinham
com a democracia constitucional uma atitude que pode ser descrita como de
repugnância. Seu objetivo político era a ditadura do proletariado, um governo
das classes trabalhadoras, uma nova ordem social, política e econômica. Nada
diferente das então ainda remanescentes “democracias populares” padecentes sob
o imperialismo soviético, por onde muitos andaram em tempos que lhes suscitam
persistente e visível nostalgia.
Essa natureza está perfeitamente
expressa no manifesto de fundação do partido: “O PT
afirma seu compromisso com a democracia plena e exercida diretamente pelas
massas. Neste sentido proclama que sua participação em eleições e suas
atividades parlamentares se subordinarão ao objetivo de organizar as massas
exploradas e suas lutas”. Vem daí todo o esforço para deitar mão nos mecanismos
formadores de opinião – entre outros: meios de comunicação, instituições de
ensino, associações, igrejas e sindicatos – e a debilitação da democracia representativa
pela ação de conselhos criados, infiltrados e controlados pelo partido.
A estima por regimes
totalitários como os de Cuba, Venezuela, Nicarágua, El Salvador, bem como a
promoção da convergência ao Foro de São Paulo dos movimentos e partidos revolucionários
na América Ibérica, são expressões da mesma genética. De igual forma,
simetricamente, não há registro de proximidade calorosa e simpática dessa
organização política com qualquer democracia constitucional estável e
respeitável. Os chamados movimentos sociais constituem os braços mais liberados
para as tarefas de ruptura da ordem em favor da causa.
Os
últimos acontecimentos promovidos em Brasília são um pouco mais do mesmo. São
atos que se repetem sistematicamente, sem exceção, contra qualquer governo, em
qualquer nível administrativo. A palavra de ordem é “Fora, seja lá quem for!”
que esteja sentado na cadeira ambicionada pela legenda. É um perfil golpista.
Geneticamente golpista e com longa história de sintomáticas manifestações.
Por isso, seu maior líder, apenas por
ser seu maior líder, é tido e havido como alguém que está acima da lei. Por
isso, embora legalmente impedido por condenação criminal, Lula foi aclamado
candidato a presidente na convenção do PT. Por isso, a estratégia é afrontar o
ordenamento jurídico do país. Por isso, no dia seguinte à proclamação do
resultado do pleito, o PT estará nas ruas e na imprensa mundial proclamando a
ilegitimidade do novo governo.
Tal acusação e o ambiente que
proporcionará serão muito ruins para a estabilidade institucional, para o
Brasil, para a confiança na economia, para o mercado e para a superação do
desemprego. Mas ao PT isso não importa. Ao PT a única coisa que importa é o PT.
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a
Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo
Pensar+.