Percival Puggina
Os onze ministros do STF contrataram um espaço especial no aeroporto de
Brasília. Pela bagatela de R$ 374 mil anuais livraram-se dos “desconfortos” da
sala VIP que já utilizavam e transformaram seus voos num prolongamento das
mordomias habituais em que tudo é privativo, do elevador ao “capinha” (aquele
funcionário que puxa e empurra a cadeira quando sentam).
A nova sala vem acompanhada
de outras regalias, como o procedimento de embarque exclusivo, uma van que
transporta o ministro até a aeronave e uma escada lateral pela qual ascendem à
cabine de passageiros. Todo o pacote minimiza o contato de suas excelências com
o povo a quem dizem servir na “distribuição” da Justiça.
Com isso, e à nossa custa,
evitam que algum passageiro malcriado lhes dirija palavras desagradáveis, como
eventualmente acontece. Palavras
desagradáveis também são privativas no topo do Poder Judiciário. Só ministros
podem proferir desaforos a ministros. E normalmente com razão.
A assessoria do Tribunal,
segundo matéria do Estadão, informa que se trata de conduta de segurança. O dito soa estranho
porque a regalia se refere apenas ao aeroporto de Brasília. Se for, mesmo,
procedimento de segurança, presume-se que algo assim deva se reproduzir nas
capitais do país, especialmente nos destinos frequentes dos senhores ministros.
Sublinhe-se, em favor da
população e de sua opinião sobre o colegiado do STF, que todo o descontentamento
que, por vezes, se expressa em indignação, é motivado pelos bons favores e pela
tolerância da Corte para com a prazerosa impunidade dos corruptos. A situação
se tornou, mesmo, intolerável.
Se esses procedimentos
típicos de recepção de motel pegarem, logo haverá salas especiais para
deputados, para senadores, para ministros do TCU, para ministros de Estado. Ou
- quem sabe? – surgirá uma nova capital federal, em área mais remota do sertão,
onde não haja povo para encher o saco.
* Percival Puggina (73), membro da
Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular
do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do
grupo Pensar+.