Percival Puggina
Em uma
conferência proferida em 1982, Darcy Ribeiro foi incisivo: “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos
faltará dinheiro para construir presídios”.
Darcy
Ribeiro era estreitamente ligado a Leonel Brizola, que governou o Rio Grande do
Sul de 1959 a 1963 contabilizando, entre suas realizações, a construção de mais
de três mil escolas. Desde então, prédios e professores nunca foram, no Rio
Grande do Sul, um problema a que se pudesse ou se possa atribuir nossos
altíssimos índices de criminalidade. Durante décadas, o estado gaúcho ponteou
os indicadores educacionais do país. Era “referência nacional”, dizia-se há
algumas décadas, com a também reconhecida “modéstia” sulina.
Como
explicar, então, o banditismo e a consequente insegurança instalada nestas
bandas? Como explicar que em Porto Alegre ocorram duas vezes e meia mais
homicídios/10 mil habitantes do que no Rio de Janeiro e quatro vezes mais do
que em São Paulo, tornando-se a capital mais violenta do país fora das regiões
Norte e Nordeste? Há algo aí cobrando, dos peritos, as necessárias explicações.
A Folha de São Paulo,
em matéria de 17 de julho do ano passado,
relatou que a cada dia, em média, quase dois
professores são agredidos em seus locais de trabalho no Estado de São Paulo,
com agressões que vão de socos a cadeiradas (tais dados só foram obtidos pelo
veículo por meio da lei de acesso a informação). Numa pesquisa da OCDE que ouviu 100 mil professores em 34
países, 12,5% dos brasileiros relataram que são agredidos ou intimidados uma
vez por semana dentro da escola. Sublinho: tudo isso acontece “dentro das
escolas”! E o Brasil é o número 1 nesse
lamentável indicador.
Na matéria de O Globo
mencionada acima, a pesquisadora
Rosemeyre de Oliveira, da PUC-SP, atribui a violência nas escolas à impunidade.
Diz ela: “O aluno que agride o professor sabe que vai ser aprovado. Pode ser
transferido de colégio - às vezes é apenas suspenso por oito dias”. Ou seja,
também aí, no microcosmo da sala de aula, nossa tão conhecida impunidade é a
regra, com resultados assustadores.
É possível que Darcy Ribeiro, se vivo fosse, estivesse
postulando escola em tempo integral como solução pedagogicamente para ocupar o
tempo das crianças e adolescentes, reduzindo sua disponibilidade para a influência
das más companhias. Mas não creio que seja uma “solução” técnica e
financeiramente factível por um setor público saqueado, vampirizado e falido.
Por isso, a importância de construir presídios. No RS, com drástica redução do
crescimento demográfico, não faltam escolas (ao contrário, há unidades sendo
fechadas). A despeito disso, os presídios estão superlotados e, visivelmente,
pelos dados sobre ocorrências criminais, há mais bandidos soltos do que presos.
É a impunidade no macrocosmo, estimulando a criminalidade e gerando
insegurança.
A simples existência de vagas prisionais tem claríssima e
indispensável função pedagógica.
* Percival Puggina (73), membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante