No último dia
16 de janeiro foi sancionada pelo Presidente da República a lei nº 13.629/2018
que declara o advogado da Escravidão do Brasil Luís Gonzaga Pinto da Gama –
Luiz Gama – Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil.
Na verdade,
Luiz Gama não era advogado, foi um rábula autodidata genial, recebeu o título
Advogado da Ordem dos Advogados do Brasil em 3 de novembro de 2015, 133 anos
após sua morte, por seus serviços jurídicos prestados à causa abolicionista. E,
na cerimônia, Luiz Gama foi representado por um descendente, Benemar França,
que só veio a tomar conhecimento de seu antepassado quando estava no 2º ano do
ginasial e um professor de História pediu que pesquisassem a genealogia da
própria família.
Luiz Gonzaga
Pinto da Gama nasceu no dia 21 de junho de 1830 em Salvador e faleceu em 24 de
agosto de 1882, aos 52 anos, em São Paulo. Foi um escravo liberto que se tornou
libertador de negros, pela via judicial, e foram mais de 500 escravos. Rábula,
porque exercia a advocacia sem ser advogado.
Ele descreve-se
como filho natural de uma negra, africana livre, da Costa Mina, de nome Luíza
Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Quanto ao pai, a
quem ocultou o nome, era de origem portuguesa e seria rico, recebera uma boa
herança de uma tia em 1836 e que esbanjou prodigamente. Depois, a 10 de
novembro de 1840, vendeu o filho como escravo.
E, assim, Luiz
Gama permaneceu até 1848, depois de aprender a ler e conhecer algumas leis,
conseguiu provar que nascera livre, ou seja, estava escravo ilegalmente. Uma
vez livre, Luiz Gama exerceu diversas atividades e profissões, foi escravo
doméstico, soldado, ordenança, copista, tipógrafo, jornalista, “advogado” e
autoridade maçônica. Mudanças incríveis, de criança livre a escrava, de escravo
a homem livre.
E também passou
de analfabeto a homem de letras, com a publicação de Primeiras Trovas Burlescas
de Getulino, em 1859. Neste ano também nascera seu filho Benedito Graco Pinto
da Gama. Somente em 1869, Luiz Gama casaria com a mãe de seu filho, uma mulher
negra, chamada Claudina Fortunata Sampaio.
Embora seja
pouco conhecido no norte do país, em São Paulo, de 1888 a 1938, cada comemoração
do 13 de Maio, Luiz Gama era homenageado, bem como nas datas de seu
nascimento e sua morte. Era a única personalidade afro-brasileira nos manuais
de instrução cívica.
Cabe ressaltar
que havia outros negros que trabalharam em prol do abolicionismo, como os
jornalistas Ferreira de Menezes e José do Patrocínio e o engenheiro André
Rebouças. Mas somente Luiz Gama passara pela escravidão. E apenas José do
Patrocínio, filho de uma escrava negra e de um padre branco, fez o relato de um
breve período de sua vida em um artigo polêmico publicado em 1884 em seu jornal
Gazeta da Tarde.
Há quem trace
paralelos somente com outros escritores negros norte- americanos que foram
escravos, Frederick Douglass (1817-1895) e Booker T. Washington (1856-1915).
Não se pode deixar de observar o papel que o estudo fez na vida destes
revolucionários abolicionistas e que deve servir de exemplo também para todos
nós.
Mario Eugenio
Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.