Em um novo
estudo da Universidade de Michigan divulgado no Journal of Neuroscience,
cientistas descobriram que a ativação de uma parte da amígdala, uma região
cerebral em forma de amêndoa, intensifica a motivação para consumir cocaína
muito além dos níveis habituais das drogas, tal como acontece com o açúcar, por
exemplo, que tem a capacidade de intensificar o desejo por alimentos doces.
Segundo Shelley
Warlow, autora principal do estudo, a amígdala do cérebro parece desempenhar um
papel fundamental na dependência de drogas. Para os que se tornam dependentes
em drogas, estas se tornam o único objetivo de desejo. Entretanto, muitas
pessoas experimentam drogas sem se tornarem viciadas e levam vidas normais
buscando um equilíbrio saudável de recompensas diferentes, ou mesmo desistindo
das drogas por completo.
Já para os
viciados, as drogas tornam-se tão atraentes que causam motivação intensa e
focada totalmente na obtenção das drogas à custa de outras recompensas da vida
normal.
Os
pesquisadores primeiro implantaram um cateter nos ratos, o que permitiu que os
animais consumissem doses de cocaína ao encostar o nariz em pequenos orifícios
na parede. Sempre que os ratos encostavam o nariz no buraco para consumir
cocaína intravenosa, uma luz laser também ativava, sem provocar dores, os
neurônios na amígdala central ao mesmo tempo. Ao encostar seu nariz em um
buraco diferente, os ratos ingeriam cocaína, mas sem ativar a amígdala.
Quando
conseguiam escolher livremente entre essas duas recompensas, os ratos se
concentraram apenas no porto em que obtinham cocaína junto com o laser ativador
da amígdala, e consumiram muito mais cocaína do que ratos sem ativação da
amígdala e passaram mais pelo buraco laser- cocaína como se buscassem mais. Os
ratos também se mostraram mais dispostos a trabalhar, quase três vezes mais,
para obter cocaína, conforme relatado no estudo.
Os ratos
mostraram-se indiferentes à ativação da amígdala pelo laser quando oferecido
sozinho. A ativação da amígdala apenas intensificou a motivação quando a
cocaína também estava presente. Em contraste, quando os pesquisadores
inativaram temporariamente a amígdala usando uma infusão de drogas indolor, os
ratos deixaram completamente de responder à cocaína.
Em outra
pesquisa, liderada por Bryan Singer da The Open University, os cientistas
descobriram que as regiões cerebrais principais que regulam os hábitos não
estavam envolvidas na busca por drogas, conforme se suspeitava em pesquisas
feitas anteriormente, mas eram em outras regiões do cérebro, as ligadas à
motivação, as responsáveis pela busca por drogas.
Em estudos
anteriores, ratos e outros animais repetiam o mesmo comportamento, como
pressionar uma alavanca ou inserir o nariz através de uma porta, para obter as
drogas. Como os desafios sempre mudaram após algumas semanas de testes, o
comportamento de dependência dos ratos nunca se tornou automático ou habitual.
Quando se
compreender as áreas do cérebro e os mecanismos envolvidos na motivação para
drogar-se, poderemos criar melhores tratamentos para a dependência e também
para outros transtornos compulsivos.
Mario Eugenio
Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.