Percival Puggina
Você
já deu uma olhada nos nomes listados nas pesquisas de intenção de voto para as
futuras eleições presidenciais? Pois é. Integram-nas alguns personagens da
nossa cena política que jamais convidaríamos para um jantar em família. Outros
há aos quais ninguém de bom senso confiaria a condução de uma microempresa
familiar. Tudo indica, porém, que a nação entregará a um deles seu destino
quando chamada - mais uma vez! - a escolher com base no inevitável e
desesperado critério do mal menor. Caveira de burro, fatalidade?
Qual
o perfil do presidente que desejaríamos ter? Honesto, competente, bem instruído
nos negócios de Estado. Ademais, animado por um talento de estadista que lhe
permitisse formular e sustentar soluções eficazes para nossas dificuldades
sociais e econômicas. Sem ser demagogo,
teria que estar dotado de excepcional capacidade de comunicação, pois lhe
caberia arregimentar a opinião pública num nível capaz de alcançar dezenas de
milhões de votos. Para viabilizar sua campanha em âmbito nacional, esse varão
de Plutarco precisaria arrecadar uma fortuna entre doadores interessados no bom
desempenho da frondosa árvore do poder e totalmente desapegados de sua
acolhedora sombra e saborosos frutos.
Chegado
ao Planalto nos braços do povo lhe caberia a indispensável tarefa política de
compor sua sustentação parlamentar, posto que com nosso pluripartidarismo ela
nunca lhe adviria da própria legenda. E mais uma vez, seu envolvente talento e
bom programa produziriam o sortilégio de implantar suas ideias em cabeças onde
elas não ocupavam qualquer espaço.
Há
mais de um século, renunciamos à superior racionalidade do parlamentarismo e
começamos a procurar por esse sujeito. E a fé em que o encontraremos resiste a
golpes e rupturas institucionais, suicídios e revoluções, num cortejo de débeis
honestos, poderosos safados, ditadores, demagogos, oportunistas, corretores da
nação, idealistas repetidores de péssimos chavões. Caveira de burro ou burrice
do sistema?
Se
a concentração de poder no governante e se a possibilidade de partidarizar o
Estado e a administração pública são causa relevantíssima de incompetência e
corrupção, por que não separar essas funções? Se é tão difícil conseguir apoio
parlamentar para medidas inerentes a um determinado plano de governo, por que
não fazer dele o tema das campanhas eleitorais, centrando na eleição parlamentar
o maior interesse político? Se seria tão apropriado dar a quem concede
mandatos, ao eleitor, o poder de cancelá-los em caso de mau desempenho,
corrupção ou infidelidade aos compromissos de campanha, por que não instituir o
voto distrital com recall (que só é exequível nesse tipo de eleição)?
O
presidencialismo brasileiro, com tão longa história de fracassos, se tornou um
caso de fetiche. Nenhuma ideia na cabeça de um presidente se concretiza se não
estiver antes na cabeça da maioria parlamentar. A importância da eleição do
Congresso é uma obviedade que grita nas páginas da História!
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.