E é
doença grave. Seus agentes transmissores proliferam em segmentos bem
específicos do meio artístico, da agenda cultural, da programação da Rede
Globo, do ambiente educativo e da militância LGBT. Mostras e performances que
causaram escândalo nos últimos dias, bem como outras já anunciadas, alinham-se
com esse objetivo. Impossível negar.
A ideia
de que os órgãos genitais são ilusões da mente e devem ser abolidos da
identidade pessoal derruba uma biblioteca de Genética e outra de Biologia. Mas
isso não importa à militância contanto que se propague um mix conceitual cheio
de contradições. Segundo ele, masculino e feminino ora seriam construções
culturais e sociais, ora deliberações tão frívolas quanto a escolha de um
adereço, ora frutos de imposições heteronormativas, ora produtos de uma
"dialética" da genitália com o inconsciente de cada um. Como
consequência, sob absoluto silêncio da natureza, ninguém nasceria homem ou
mulher. Todos arribaríamos a este mundo assexuados como manequins de vitrine,
pendentes de definições ou indefinições que adviriam das influências e das
experiências mais ou menos bem sucedidas ou malsucedidas. Ademais, os gêneros
seriam intercambiáveis e, dependendo do lado de corte do fio, inacessíveis aos
cuidados de psicólogos e psiquiatras.
Qualquer
dessas ideias, suas dicções e contradições tem inteiro direito de comparecer ao
debate no ambiente social leigo e no ambiente científico. O direito que não
lhes assiste é o de assalto às salas de aula e espaços infantis, precisamente
seu interesse maior. Mantenham-se longe daí! Esses ambiente lhes são totalmente
impróprios. Sua presença ultrapassa os limites da delinquência. Ninguém tem o
direito de levar suas próprias dubiedades às mentes infantis para confundir
suas identidades.
Tomar as
exceções como fonte de norma geral e impô-la a crianças é uma perversão que
passou a tomar corpo, no campo educacional, durante a Conferência Mundial da ONU
sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo em 1994. A palavra gênero
aparece 211 vezes em seus documentos. Entende-se: quanto mais sexo homossexual,
menor a reprodução da espécie. Aqui no Brasil, o Plano Nacional de Educação,
que tramitou no Congresso Nacional desde 2010, cozeu no forno legislativo
recheado de centenas de emendas e inclusões da ideologia de gênero até que, por
ampla maioria, todas as referências ao tema foram suprimidas da lei que instituiu o PNE 2014-2024. Em que
pese a rejeição no ditame federal, o MEC - sempre o aparelhamento da burocracia
pela ideologia! - através da subsequente Conferência Nacional de Educação,
enviou a Estados e municípios documento reintroduzindo a ideologia de gênero
como conteúdo abundante nos respectivos planos. Esse desrespeito à legislação
federal e à posição do Congresso Nacional está muito bem exposto aqui. Assim, também Estados e municípios tiveram que se defrontar
com a questão e, outra vez, intensa mobilização social derrubou a inclusão de
tais políticas na quase totalidade dos planos de educação dos mais de cinco mil
municípios brasileiros. Não foi diferente nos Estados.
A disposição que os militantes do MEC não têm para ensinar o
que interessa, têm para isso. A versão final da Base Nacional Comum Curricular
tem 396 páginas e a palavra gênero
reaparece 135 vezes! Esse número de menções fornece uma ideia do espaço que ela
ocupa na cabeça dos que põem a educação brasileira a serviço de suas causas.
É como
se nada significassem a maciça rejeição pela opinião pública e pelos poderes
que a representam. Querem enfiar-nos goela abaixo a militância de gênero no
sistema de ensino para causar molesta crise de identidade nas nossas crianças.
Não passarão!
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.