Percival Puggina
"O coração tem razões que a razão
desconhece". Blaise Pascal (sec. XVII)
A frase
do grande matemático e filósofo francês me veio à mente quando tomei
conhecimento de que a pesquisa da CNT divulgada na semana passada detectou
avaliação positiva de apenas 3,5% da população ao governo de Michel Temer, ao
passo que 75,6% o qualifica negativamente. A exemplo dos indivíduos, o coração
das massas tem razões desconhecidas da razão.
Tais
números me levaram a examinar outros. Em 16 meses da gestão Temer:
1) o risco Brasil caiu de 400 pontos para 180;
2) a SELIC (taxa de juros) foi reduzida de 14,25% para
8,25%;
3) a inflação (carestia) desacelerou de 6,48% para
2,71% ao ano, no menor nível em duas décadas;
4) o PIB brasileiro, nos dois últimos trimestres,
voltou a crescer após 36 meses de sucessivas quedas, mostrando que o país está
emergindo da mais desastrosa recessão de sua história;
5) a massa salarial real cresceu 2,3% e o consumo das
famílias, após oito trimestres de retração, subiu 1,2%;
6) o saldo anualizado de admissões e demissões, pela
primeira vez nos últimos anos, se tornou
positivo em 101 mil vagas.
Estes
dados são todos significativos. O desenvolvimento social depende do
desenvolvimento econômico.
Contra o
governo Temer pesam:
1) a herdada desproporção entre o gasto público e os
serviços disponibilizados à população, causa do cotidiano mal estar social;
2) as denúncias de corrupção envolvendo o presidente;
3) a impopular necessidade de modernizar a previdência
social e as relações de trabalho.
No confronto entre fatores positivos e
negativos, obviamente pesaram mais estes últimos na avaliação da grande maioria
dos pesquisados e é tolice brigar com a opinião pública. Isso me leva a uma
outra questão: como se teriam manifestado os cidadãos pesquisados se a pergunta
investigasse a posição das pessoas sobre o que é melhor para o país - manter ou
substituir o presidente neste momento? Estranhamente, embora mais importante do
que a aprovação ou desaprovação, essa questão não foi formulada. A posição
sobre a permanência ou não do presidente, em virtude de suas consequências, é
politicamente mais significativa. O afastamento, agora, teria quatro efeitos
principais:
1) a instalação de um novo processo criminal (desta
vez pelo STF), com recrudescimento da instabilidade política que se prolongaria
até as eleições do ano que vem;
2) um governo de transição sob o comando do presidente
da Câmara dos Deputados (Rodrigo Maia), que precisaria negociar nova maioria
parlamentar e a subsequente disputa em torno do processo sucessório;
3) a difícil deliberação sobre como se faria a
eleição, porque o respectivo preceito constitucional nunca foi regulamentado;
4) uma retração das atividades econômicas, inevitável
diante da instabilidade política pois, sabidamente, a mera expectativa de uma
crise faz com que a bolsa caia e o Real se desvalorize.
Com tais
razões, que julgo serem da razão porque meu coração pede cadeia para todos os
culpados, é que, se pesquisado, eu responderia convir ao país que Michel Temer
só seja julgado após o término de seu mandato. É tradicional nas nossas constituições, inclusive na de 1988,
atribuir à Câmara dos Deputados a decisão de aceitar ou não denúncias
formuladas contra o presidente da República. Tal prerrogativa é um
reconhecimento da prevalência da definição política quando se trata do
interesse público. E o interesse público, a conveniência nacional, é
espaço da Política. Na primeira denúncia de Janot, a Câmara não inocentou
Temer, nem sustou qualquer investigação. Apenas postergou a respectiva ação
penal para o término do mandato.
________________________________
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.