Percival Puggina
Assinei,
há pouco, um manifesto
contra a pedofilia e a erotização infantil. A esse ponto chegamos! Após longo e
infame andar, de tolerância em tolerância, se faz necessário um manifesto
contra esses crimes hediondos; e poderia haver mais um contra grupos que
militam, intensa e escancaradamente, pelo direito de influenciar a sexualidade
infantil dentro das salas de aula com ideologia de gênero; um terceiro, ainda,
contra a pluralidade de meios pseudopedagógicos, pseudoliterários e
supostamente lúdicos que visam a confundir a percepção das crianças em relação
ao próprio corpo; e um quarto, por fim, contra o suprimento de recursos
públicos a tais ações. Sim, a tal ponto chegamos!
Devemos
agradecer a tolerância para com essas indigestas delicatessen morais, em boa
parte, à ação cotidiana de tantos formadores de opinião, desembarcados dos
cursos de jornalismo militante para assumirem o papel de corregedores da
opinião pública. Diante do teclado, das câmeras e dos microfones assumem ares
messiânicos. São ridículos profetas dos modismos, aos quais se consagram em
nome de liberdades cujas honras e privilégios recusam a quem deles divirja,
motivo pelo qual dirão, sim, que o parágrafo acima é uma redação fascista. Por
quê? Porque para eles um manifesto contra a pedofilia e a erotização das
crianças é fascismo em estado puro, ora. Foi previamente estabelecido, no bar
da faculdade, no fumódromo da redação, que certo e errado, bem e mal, moral e
imoral, são decisões de foro íntimo. E quem diverge disso é fascista.
Assim,
a propósito de tudo pelo que militam, sentem-se muito bem porque estão em
eterno acordo consigo mesmos, num circuito fechado e em conjunto vazio.
Princípios que você, leitor, ouviu quando criança, do tipo “deve-se fazer o bem
e evitar o mal”, e tantos outros, caem por terra ao primeiro confronto com a
conveniência pessoal ou com as pautas ditadas pelo imperativo absoluto do
"coletivo" político.
Tinham
muita razão os ancestrais farroupilhas ao incluir no hino rio-grandense a frase
que cantávamos no 20 de setembro: “Povo que não tem virtude acaba por ser
escravo”. De fato, há uma relação entre a liberdade e a adesão ao bem, da mesma
forma como há uma relação entre o vício e a perda da liberdade. Uma das
tramoias do "politicamente correto" consiste em incentivar a troca da
virtude pela tolerância com o intolerável, gratificando com um diploma de
"politicamente corretos" os tolos que fazem a permuta. Seus
agraciados são representativos da submissão à grande rede da corrupção, cujo núcleo é moral, sendo as demais
formas em que ocorre - a política, a financeira, a da razão, a da natureza,
etc. - derivadas e periféricas em todos os ramos da vida social. Melhor não
gritar plenos pulmões “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”, se não
for para valer.
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do
Brasil. integrante do grupo Pensar+.