Na Encíclica
Laudato Si do Santo Padre Francisco, no §23, ele afirma que o clima é um bem
comum, um bem de todos e para todos. Assume que há um consenso científico muito
consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do
sistema climático. E que nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado
por uma elevação constante do nível do mar.
A humanidade é
chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de
produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas
humanas que o produzem ou acentuam. É verdade que há outros fatores, mas
numerosos estudos científicos indicam que a maior parte do aquecimento é devida
a atividade humana.
Por sua vez, o
aquecimento influi sobre o ciclo do carbono (§24). Cria um ciclo vicioso que
agrava ainda mais a situação e que incidirá sobre a disponibilidade de recursos
essenciais como a água potável, a energia e a produção agrícola das áreas mais
quentes e provocará a extinção de parte da biodiversidade do planeta. O derretimento
das calotas polares e dos glaciares, a libertação de gás metano e a
decomposição da matéria orgânica congelada pode acentuar ainda mais a emissão
de dióxido de carbono. Entretanto a perda das florestas tropicais piora a
situação, pois estas ajudam a mitigar a mudança climática. O dióxido de carbono
aumenta a acidez dos oceanos e compromete a cadeia alimentar marinha.
Se a tendência
atual se mantiver, este século poderá ser testemunha de mudanças climáticas
inauditas e duma destruição sem precedentes dos ecossistemas, com graves
consequências para todos nós. Por exemplo, a subida do nível do mar pode criar
situações de extrema gravidade já que um quarto da população mundial vive à
beira-mar ou muito perto dele, e a maior parte das megacidades está situada em
áreas costeiras.
As mudanças
climáticas são um problema global com graves implicações ambientais (§25),
sociais, econômicas, e políticas, constituindo atualmente um dos principais
desafios para a humanidade. Muitos pobres vivem em lugares particularmente
afetados por fenômenos relacionados com o aquecimento, e os seus meios de
subsistência dependem fortemente das reservas naturais e dos chamados serviços
do ecossistema como a agricultura, a pesca e os recursos florestais. Não possuem
outras disponibilidades econômicas nem outros recursos que lhes permitam
adaptar-se aos impactos climáticos.
A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil.
Muitos daqueles
que detêm mais recursos e poder econômico ou político parecem concentrar-se em
mascarar os problemas ou ocultar os seus sintomas, procurando apenas reduzir
alguns impactos negativos de mudanças climáticas (§26).
Tornou-se
urgente e imperioso o desenvolvimento de políticas capazes de fazer com que,
nos próximos anos, a emissão de dióxido de carbono e outros gases altamente
poluentes se reduza drasticamente, por exemplo, substituindo os combustíveis
fósseis e desenvolvendo fontes de energia renovável.
Mario Eugenio
Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) e congregado mariano