Percival Puggina
É o que tenho
ouvido de muitos congressistas empenhados em drenar da dignidade do voto
algumas gotas de virtude para substituir os hectolitros dessa mesma substância
moral que deixaram verter pelo caminho.
Como assim,
Excelência? Não dá para resgatar a honra do voto popular se ele foi obtido por
péssimos meios para ainda piores fins. O que a cada dia fica mais evidente
perante os olhos da sociedade brasileira é que um número substancial de
mandatos em pleno uso de seu poder de fogo são mandatos usurpados, obtidos fora
das regras do jogo e perverteram a representação democrática.
A questão já
foi posta por outros analistas, mas cabe reavivá-la aqui: o que é social e
moralmente mais danoso? Fazer uso de dinheiro roubado para robustecer o
patrimônio pessoal, ou para perverter a democracia mediante abuso do poder
econômico durante a disputa eleitoral? Parece claro que atacar a virtude da
disputa política, viciar a representação, corromper o voto popular é muito mais
funesto. A certeza se extrai de realidade palpável porque - feitas as muitas devidas,
honradas e honrosas exceções -, é impossível negar que tais práticas têm
contribuído, de modo crescente, para desqualificar a representação,
apetrechando o país com uma cada vez
menos confiável, menos competente e menos esclarecida elite política.
Converse com
antigos servidores de qualquer poder legislativo e ouvirá o testemunho do fato:
a cada legislatura decai a qualidade da representação parlamentar, até sermos
arrastados às atuais societas sceleris.
Depois, observe os resultados dos pleitos presidenciais e me diga se alguma
empresa, de capital aberto ou fechado, com acionistas ou proprietários,
entregaria seu comando a pessoas como Lula e Dilma Rousseff. No entanto, o
Brasil confiou-se a eles em quatro pleitos sucessivos.
Acompanhei em
Porto Alegre, a última eleição da Câmara Municipal e sei o quanto ela, com recursos
limitados a pequenas doações pessoais, dependeu principalmente da atividade
voluntária de apoiadores e do trabalho diuturno dos candidatos. Bem diferente
do que estava habituado a observar, quando, às primeiras horas do início
efetivo das campanhas, a cidade amanhecia com suas principais avenidas tomadas
por material publicitário de meia dúzia de candidatos.
Obviamente, a
democracia ganha muito mais quando quem tem que buscar voto é a pessoa do
candidato, quando é ele que trabalha e não sua máquina eleitoral, formada por
legiões de militantes pagos, frotas de veículos e muito recurso sonante para
atender demandas de cabos eleitorais espalhados de uma forma que lembra a
tomada de território em guerra de ocupação.
Não venham,
então, os que se locupletam com caixa dois, os mercadores de emendas, os que
mascateiam favores, os beneficiários de exuberantes e mal havidos fundos
partidários, advogar, em benefício dos próprios pescoços, por listas fechadas,
abuso de autoridade, anistia de caixa 2. A nação dispensa tais trabalhos! É
hora, então, de os bons congressistas se unirem para o expurgo dos maus.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.